sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Capítulo 5 – Quando eu penso que tudo passou, BAM! Bomba na minha cabeça, será que eu sou realmente mal assim para merecer essa confusão?! (REFORMADO)

Capítulo 5 – Quando eu penso que tudo passou, BAM! Bomba na minha cabeça, será que eu sou realmente mal assim para merecer essa confusão?! (REFORMADO)

Se alguém tivesse conseguido ver a velocidade em que eu corria, com certeza essa pessoa seria premiada. Corria pela rua pouco movimentada de carros e a minha volta não era possível se ver nada, exceto borrões das casas e lojas que iam ficando para trás conforme tentava me salvar.
Com certeza se estivesse andando em forma humana, levaria em media de cinquenta minutos para chegar em casa, mas com aquela velocidade, chegaria em menos de quinze minutos.
Passei por um relógio em um grande prédio luxuoso e me assustei quando vi que eram quatro e cinquenta e cinco. A rua logo estaria apinhada de carros e pessoas acordando para mais um dia de trabalho, mas a minha sorte é que estava perto da ponte ao lado do condomínio.
Resolvi acelerar o passo na intenção de deixa-los para trás, mas quando olhei para ver a distância que estavam não havia mais carro nenhum me seguindo, mas isso não significava que tinha escapado.
Olhei para frente novamente, estava de frente para a ponte e aos dois lados haviam as saídas de retorno e o rio, e foi nele que me joguei.
Seria muito mais seguro passar pelo rio por motivos óbvios. Na ponte já havia um numero maior de carros, que vinham das pistas rápidas e entravam pelos contornos para a ponte, o risco de ser cercado por aqueles homens era bem maior.
A correnteza não era problema para mim, a força em minhas patas eram o suficiente para parecer que eu estava nadando em uma piscina. Atravessei o rio rapidamente, me sacodindo inteiro para secar quando sai dele.
Ouvi pneus cantando e olhei para minha direita, a van estava descendo velozmente pela contramão na ponte, fazendo alguns carros desviarem. Não esperei mais nem uma manobra radical ocorrer, voei em direção a minha casa, deixando-a para trás novamente.
Não seria seguro passar por aquela área daquele jeito pela manhã, varias pessoas saiam para trabalhar e não aumentaria a minha popularidade ser visto como um cachorro gigante de cinco metros de altura, resolvi que seria melhor voltar a ser apenas um garoto e deixar a sorte me guiar.
Voltei ao normal na primeira curva para entrada de barro da favela, pensando no jeito que Raissa havia me olhado aquela manhã, foi o suficiente para no segundo seguinte voltar a ser um menino com um macacão maior do que o corpo, descalço e quente demais, febril.
Corri para dentro da favela, sempre indo para a esquerda, visando o condomínio, que estava logo ao lado dela, depois da estação de trem. Passando por pessoas com cara de sono, e travessas com buracos. Sai num matagal e consegui ver a estação de trem e meu prédio além dela.
Corri como nunca antes, e ouvi barulhos de passos pesados, havia gente atrás de mim, mas não tentei olhar para trás, continuei correndo até chegar ao muro da estação de trem, (o qual pulei sem ligar para os berros do segurança) correndo pelos trilhos e passando pelo outro muro. Os passos pararam, mas eu não.
Continuei correndo por mais cinco minutos até chegar à entrada do prédio, mas desviei a entrada principal e fui pelo portão de cargas, a fim de evitar perguntas inquietantes do porteiro ás cinco da manhã de como eu tinha saído sem ser visto.
Subi o morro que ficava de frente para a minha janela no mesmo pique da corrida, me virando para pegar impulso e alcança-la, mas no ultimo segundo algo me fez parar.
Douglas estava parado lá em baixo, olhando para mim, com os ombros envergados e os caninos a mostra, pode ter sido uma alucinação, mas juro que vi um reflexo amarelado em seus olhos, mas antes que pudesse confirmar, um borrão sujou a cena e ele havia sumido.
Ignorando tudo aquilo, dei dois passos para trás, e pulei.
A minha sorte era que a janela estava aberta porque no momento em que me encostei na parede escorreguei, mas consegui segurar na parte quina, e pulei para dentro do meu quarto.
Fechei a janela mas não deitei na cama. Corri para o banheiro. Fedia como um porco. Ter pulado no rio talvez tivesse sido uma boa ideia de primeiro momento, mas não tão boa assim.
Alguém bateu na porta e ouvi minha mãe avisando que era para tomar banho rápido antes que atrasasse para o colégio.
“ Pelo menos eu cheguei na hora certa, depois de tudo aquilo, consegui.” – esse pensamento me acalmou por alguns segundos.
Tomei um banho rápido e tirei aquele fedor de mim. Joguei a roupa que Jason havia me arrumado no chão e pensei se ele teria tido tanta sorte quanto eu e se havia conseguido escapar, mas não me preocuparia com aquilo agora, ele com certeza sabia se cuidar melhor que eu.
Escondi a roupa na mochila quando fui para o meu quarto e me arrumei, coloquei roupas extras também, para o caso de algo sair do controle.
O elevador chegou e como sempre encontrei o meu amigo Douglas, mas algo estava diferente aquela manhã:
- O que aconteceu com o seu olho? – perguntei pra ele, sem nem desejar um bom dia.
Seu olho direito estava escondido atrás de um enorme hematoma roxo, que parecia ser recente, ele tentou jogar seu cabelo por cima do machucado, mas não foi muito feliz.
- Não é da sua conta – ele me respondeu friamente.
- Tudo bem, só queria ajudar – lhe devolvi com a mesma frieza.
- Então não tente, você já fez demais por mim – sua voz foi mais alarmada, alterado
- Do que você está falando? – perguntei confuso.
- Como anda seu mais novo amigo, em? – ele desdenhou e um sorriso apareceu no canto da sua boca, relevando um canino bem afiado para qualquer pessoa, ao menos talvez, eu e Jason quando estamos brincando de “mamíferos”.
- Você só pode estar louco! – mas me entreguei ao falar, minha voz foi de fria para amedrontada.
Não tinha como ele saber de Jason, nem do que eu realmente era, foi então que veio na minha cabeça a imagem no morro.
Durante o banho havia pensado que aquilo havia sido apenas um sonho, ou uma alucinação por conta de toda a adrenalina, mas olhando agora para ele, parecia muito mais real do que apenas uma visão.
- Muito pelo contrario, estou muito melhor do que você pode imaginar, agora que sei com quem estava me metendo.
Eu não quis acreditar, mas ele realmente sabia.
A porta do elevador se abriu e pareceu que aquela descida de dois andares demorou uma eternidade. Ele saiu dando passos longos e tentou jogar a porta na minha cara ao invés de segurar, mas eu a segurei e corri atrás dele.
- Douglas, como você ficou sabendo? - perguntei com raiva, segurando em seu braço para não recomeçar a andar e soltei quando ele gemeu, porque também parecia machucado.
- Alguns dos seus amigos me visitaram ontem, você passou em casa á pouco tempo e pelo o que eles me disseram, o seu cheiro impregnou a casa – ele riu com a última parte, uma risada maligna, que com certeza não lhe pertencia.
- Foram eles que fizeram isso com você? – perguntei calmamente, fingindo não ter ouvido a risada.
- Não te interessa... – ele olhou para minha cara e seus olhos se arregalaram.
Senti meus olhos arderem e provavelmente deviam ter ficado amarelados novamente.
- Sua aberração! – ele brandou e saiu andando a passos longos, bufando entre os dentes..
Não tentei ir falar com o Douglas porque provavelmente não daria em nada, então fui pegar o trem.
Quando cheguei há entrada da estação, não passei o bilhete pela catraca, virei e pulei o mesmo muro que havia pulado a menos de meia hora, que dava nos trilhos. Por um pensamento idiota resolvi que não iria para o colégio de trem e sim em quatro patas.
Me despi e coloquei o macacão que estava dentro da mochila, e a palavra surgiu em meus lábios, fácil e simples.
- Animorfose.
A transformação aconteceu e em segundos, no outro me vi forte como um lobo e tamanho de um carro.
A pior coisa que poderia ter feito, era passar como um lobo na frente de várias pessoas que esperavam o trem, mas alguma coisa no meu interior me falava que não voltaria mais ali, que não voltaria mais para minha casa por um bom tempo.
Peguei a minha mochila com os dentes e a passei pelo pescoço, sufocou um pouco no começo, mas depois pareceu alargar e ficar normal. Resolvi que seria melhor se esperasse o trem que seguia para o lado do meu colégio parar, pelo menos evitaria que uma boa quantia de pessoas me visse, a outra parte, que estava quase vazia, poderia pensar que o sono ainda não lhes avia deixado ainda, fazendo ver lobos gigantes com mochilas da Nike presas em seu pescoço.
O trem fez a curva e eu me deitei no mato ao canto da estação, que me cobriu até a metade. Não tinha reparado até ali na minha cor, porque naquela madrugada da minha transformação estava escuro.
Tinha os pelos marrons avermelhados, com pequenas manchas pretas em alguns lugares, foi há única coisa que consegui registrar de mim mesmo por falta de um espelho.
Quando o trem ele passou, corri atrás dele, mas antes que pudesse entrar no meio dos trilhos e sair disparado, alguma coisa me parou.
Uma corrente elétrica percorreu todo meu corpo, fazendo rosnar tão forte que algumas pessoas olharam em minha direção, me fazendo recuar. Olhei para trás tentando descobrir o que havia me parado e vi um fio azul estava preso na minha coxa direita, voltei para o mato e tentei guiar meu olhar até a outra ponta do fio.
No momento em que consegui chegar até a outra ponta do fio, esperando encontrar vários homens vestidos de preto, me surpreendi.
Segurando o fio metálico encontrava-se apenas uma pessoa, com uma mochila nas costas e um olho totalmente escuro mesmo a distancia que estávamos foi fácil dizer, Douglas.
Na outra mão segurava um celular que eu sabia não pertencer a ele, falava rapidamente com quem quer que fosse e parecia prestes a fazer uma loucura. Seu olhar sobre mim era quase doentio, não parecia ter noção dos próprios atos.
Eu não sabia quanto tempo aguentaria aquelas descargas elétricas, e não poderia abusar da sorte muito mais, então mordi o fio na tentativa de me soltar.
Enquanto tentava me soltar, um único pensamento passava pela minha cabeça.
“Não posso acreditar que meu melhor amigo, está do lado dos caras que tentarão me matar, não quero, mas se conseguir escapar, não vai ter volta, ai! Esse negócio da choque!”.
Me corpo estava formigando, e minha cabeça estava para estourar, e não via um jeito de conseguir estourar as corda estando tão fraco, então comecei a me afastar, me arrastando para o oposto dele. O fio não tentava me trazer de volta, mas conforme eu conseguia me afastar, as descargas começavam a ficar mais fortes, só que a intervalos maiores, dando tempo para conseguir respirar.
Douglas estava tão absorto em sua conversa que não percebeu minha tentativa de fuga e que o aparelho estava começando a falhar.
Entrei no meio de um arbusto seco a um pouco menos de dez metros de onde estava quando comecei a me puxar, e comecei a enroscar o fio nele, na tentativa de estourar. Uma ultima descarga forte e violenta passou e com uma sorte dos céus, consegui me soltar. Estava tremendo e fraco, mas livre. Foi nesse momento em que ele se tocou.
Olhou para o arbusto e apontou o aparelho de novo para mim, mas parecia que depois de alguns segundos o efeito das descargas sobre mim já haviam cessado, fui mais rápido.
Escapei e o fio bateu no chão e voltou, como uma língua. Rolei para a direita e levantei rosnando. Corri para cima dele tão rápido que não teve tempo nem de pensar.
Pulei a uma distância de cinco metros dele e minha pata direita bateu com força sobre seu ombro esquerdo, fazendo cair e bater a cabeça nos trilhos do trem.
Eu queria mata-lo, tinha absoluta certeza que ele teria feito o mesmo comigo há alguns minutos atrás. Meus dentes estavam arreganhados para fora e meu focinho estava de frente para o seu rosto.
Mas eu não poderia.
Não poderia machuca-lo mesmo que quisesse, era o meu melhor amigo, um ser humano inocente sendo forçado por outras pessoas. Não podia deixar o instinto daquela “coisa” me guiar.
Cravei os dentes na sua canela e o puxei para fora dos trilhos, não fui muito gentil na parte de “cravar os dentes”, para evitar o caso dele resolver levantar e tentar fazer alguma coisa que não devesse quando recobrasse a consciência.
Ainda como lobo, me sentindo mais forte e tremendo menos, remexi sua mochila e joguei tudo que considerei perigoso no meio do mato, e não eram poucas coisas.
Além do celular e mais um aparelho que resolvi apelidar de “Elétrico” havia duas coisas que pareciam granadas, só que eram prateadas e tinham luzes azuis neon nas pontas, os quais não quis descobrir o que realmente eram, uma faca prateada com as siglas “TB” na parte de couro dela que me confirmou que aquilo que estava me perseguindo era algo, mais complexo que Killer’s, e um livro preto que estava com um cadeado com as mesmas siglas e parecia ser algo que não pertencia a ele.
Depois de me livrar de tudo e deixa-lo escondido no mato com a perna sangrando por baixo da calça, fui em direção ao meu destino, onde esperava estar salvo disso, cheio de raiva e ódio, segui em direção ao colégio.

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