terça-feira, 22 de setembro de 2009

Capítulo 2 – Se é pra ser assim, então que não seja, me deixa em paz antes que eu te ataque um rosbife gigante na cabeça ! ( REFORMADO )

Capítulo 2 – Se é pra ser assim, então que não seja, me deixa em paz antes que eu te ataque um rosbife gigante na cabeça ! ( REFORMADO )

Eu fiquei transtornado com tudo o que havia acontecido até ali.
Um mendigo maluco que parecia saber tudo o que estava acontecendo comigo tinha acabado de se transformar em um pássaro, e saiu voando. Pelo que me parecia, ninguém percebeu o que havia acabado de acontecer, mas antes que pudesse me confirmar como um maluco, meus amigos chegaram.
O meu grupo no colégio, era formado por, Victor, João, Acácio, Caio, Filipe, Iago, Liliane e Karina.
Victor era o típico garoto estudioso, magricela, adorador de desenhos japoneses e dos seus próprios desenhos, era um dos melhores alunos da classe e também um dos meus grandes amigos.
Iago era da sala da garota dos meus sonhos, eu não falava muito com ele, mas era um amigo bem próximo do Victor. Alto, de pele morena e sempre bem humorado com um sorriso estampado no rosto.
João e Acácio eram irmãos. João era um pouco mais alto que o Acácio, ambos eram magros, de um tom de pele mesclado, como a dos índios, os cabelos de João batia em seus ombros e eram encaracolados. Os dois irmãos eram muito divertidos e companheiros, até se davam bem se vissem pelo lado de terem a mesma idade.
Caio era um garoto gordinho, bem alto, cabelos negros e olhos negros, estava do lado de seu irmão Filipe falando sobre a festa que iriam fazer na igreja que eles costumavam freqüentar.
Karina era uma garota baixinha, de cabelos castanhos claros e longos e Liliane era alta, de cabelos castanhos escuros e eram as melhores amigas, quando se olhava para elas viam aquelas duplas inseparáveis do, gordo e o magro, o alto e o baixo. Estavam uma do lado da outra cochichando sobre os garotos das outras salas (elas pensavam que ninguém podia ouvir o que elas estavam falando, mas infelizmente para mim, eu podia).
Quando entramos na escola e resolvi que iria falar com Victor sobre o que tinha acontecido no trem. Bem, depois do Douglas ele era um dos amigos que eu mais confiava.
Quando nós estávamos subindo para sala eu contei a ele com alguns cortes o que aconteceu, cortando por exemplo, a parte que meus olhos trocaram de cor ou no momento em que o mendigo virou um pássaro azul e amarelo e me deixou sozinho esperando por eles.
– Quer dizer que você acertou o nome do pássaro que nunca viu antes na vida em um impulso? Um choque que passou pelo seu corpo? Uau! – ele disse achando tudo engraçado, como se eu tivesse brincando.
– Victor, eu estou falando sério cara, eu não sei o que aconteceu!
– Ta bem, ta bem. Eu vou procurar algo mais tarde algo sobre isso, depois eu falo com você certo? – ele falou parando de rir, percebendo minha seriedade.
– Ok.
Só consegui vê-la na hora do intervalo, ela estava perto de um murinho com algumas amigas.
Eu estava fingindo prestar atenção na discussão dos meus amigos sobre matemática, mas estava na realidade estava me perdendo nos seus olhos.
Ficava imaginando o motivo de ela estar segurando o olhar em mim por tanto tempo, talvez meu olho tenha ficado amarelo de novo ou algum tipo de distúrbio estava acontecendo, ou estava com tanta vontade de falar comigo, quanto eu estava de falar com ela, ou até mesmo com medo daquele garoto estranho e feio não parar de encará-la nem por um segundo.
Quando estava subindo para a sala novamente percebi que um pássaro totalmente azul e com o bico preto estava parado na janela das escadas dos andares. Aproximei-me dele temendo o que aconteceria a seguir, não faltava mais nada me acontecer de anormal mesmo.
Fiquei praticamente cara a cara com eu ouvi o pio que alto e agudo.
Eu não sei como, mas consegui perceber certo tom de alerta naquele pio, parecia que ele queria me avisar algo.
– Como eu entendo você? – eu perguntei rapidamente, me sentindo um completo idiota
Ele piou e saiu voando para o andar de cima, que normalmente ficava vazio durante o intervalo. Com outro flash de cegar os olhos aquele mendigo havia voltado e o pássaro sumido.
– Ah, de novo não! – virei de costas e comecei a descer os degraus.
A primeira impressão pude jurar que o mendigo estava pelado mas de um jeito que eu não sei explicar, ele vestia uma sunga Box que estava intacta mesmo com a sua “transformação”.
– Não temos tempo para conversa, siga a garota, ela corre perigo, vou ter que pedir a você uma coisa que não tem noção que é capaz de fazer, pode sentir-se estranho da primeira vez ou talvez nem consiga – “pelo amor” eu demorei duas semanas pra metamorfar na primeira vez – ele falou consigo mesmo – mas logo explicarei tudo. Se sentir que está correndo perigo deixe acontecer, deixe-o despertar, não tema pelo que acontecerá, explicarei tudo quando puder – me disse com um tom urgente, olhando escada abaixo.
Ouvimos barulho de movimentação, os alunos estavam voltando para as salas e a nossa conversa estava chegando ao fim.
Eu não respondi nada, estava a ponto de chamar alguém para me colocar uma camisa de força, será que eu realmente estava ficando louco ou tudo aquilo era real? Não sabia o que fazer, segui-la e ter a chance dela achar que eu sou um completo louco? Deixá-la em sua sala e ficar na minha, estávamos a uma distancia de dez metros entre uma sala e outra de qualquer forma!
Ficar na minha com certeza, como já havia me acontecido tanta coisa estranha aquele dia, um pouco de paz cairia bem.
Fui para a minha sala depois que outro flash encheu o corredor e o pássaro voltará, piou novamente e saiu da minha vista por uma janela aberta a minhas costas.
Na sala de aula eu normalmente me sentava perto da janela, então tinha uma boa visão da rua a minha esquerda.
Não sairia correndo da minha sala como um louco para proteger a menina que eu mal conhecia, não acho que seria a coisa mais sensata a se fazer mas estava com medo que algo realmente ruim acontecesse, e com esses pensamentos loucos as três ultimas aulas passaram, sem eu mesmo perceber.
Quando o sinal do fim das aulas do dia tocam, é um grande tumulto, gente se empurrando para descer as escadas, gritos e berros, então fiquei para trás para não entrar na aglomeração e também esperar e ver ela passar com suas amigas.
Quando saiu de sua sala nossos olhos se encontraram novamente, e senti minhas pernas tremerem fortemente, ameaçando me derrubar e pagar um grande vexame.
– Err.. Oi – falei totalmente constrangido, quando me aproximei sem motivo.
Suas amigas fizeram uns barulhos estranhos, como se estivessem achando aquilo muito engraçado, me fazendo ficar pior no meio daquela situação, menos uma delas, que sorriu radiante como se esperasse aquela cena a um longo tempo.
– Oi – disse ela tranquilamente, aparentemente não sentindo o mesmo que eu, ou pelo menos, conseguindo esconder muito melhor.
– É... Um amigo meu me falou que você mora no mesmo condomínio dele, e eu precisava ir para ali perto, só que não conheço nada dessa área, ele me disse que não teria problema em falar com você que me ajudaria, tem como? – aquilo com certeza foi a coisa mais idiota que eu falei na minha vida toda para uma garota, eu nem ao menos sabia o nome dela, e estava pedindo para ela me levar ao um lugar que eu conhecia muito bem.
Foi provavelmente o limite para as suas amigas, fazendo uma rir absurdamente e escandalosamente alto, como se esperasse algo do tipo daquela conversa e saiu andando. Ela tentou lançar um olhar de sarcasmo para a amiga, que pareceu não notar e sumiu no corredor com as outras em sua cola.
– É... Lia – ela disse para a unica que havia ficado para ver a cena, e parecia bem feliz com tudo aquilo – pode ir – e ela saiu para as escadas com um sorriso na cara, mas não de ironia e sim de felicidade.
Comecei a me sentir melhor, mais confiante.
– Eu moro aqui perto, mas para que precisa ir até o clube? – ela perguntou, também abrindo um pequeno sorriso pelo canto da boca, deixando a vista seu aparelho com borrachinhas vermelhas.
– É que eu preciso, bem... Encontrar um amigo ali por perto – falei um pouco sem graça com a parte do “amigo”, eu não queria ter muita intimidade com um mendigo.
– Ah, eu moro realmente do lado – disse animada, começando a caminhar pelo corredor, e sem convite eu a acompanhei.
Achei realmente estranho, havia sido mais fácil do que eu pensei, imaginei muitas coisas na primeira vez que falaria com ela, como por exemplo, ser esnobado, ou ela rir de mim como suas amigas, mas foi muito mais fácil, como respirar. E o mais importante ela estar perto de mim, e no momento, isso era a melhor coisa do mundo.
Apressamos o passo até estarmos mais ou menos cinco quarteirões do clube, em alguns momentos jurei ver dois pássaros passando sobre nossas cabeças.
Eu não sabia o que falar depois de alguns minutos falando sobre a matéria e professores, não tinha nada o que dizer, tirando o fato da vergonha estar me fazendo ficar provavelmente roxo com o silêncio.
– Como você chama, não me disse? – ela me perguntou alguns instantes depois do meu pensamento, quando atravessamos o quarto ou quinto quarteirão, ri sozinho por um segundo, tinha esquecido de me apresentar.
– Guilherme, mas a maioria das pessoas me chamam de Freitas, e você?
– Raissa – ela me disse, olhando para o outro lado da rua sem prestar atenção em mim – Minha casa fica ali na próxima rua, o clube fica mais...
Havia parado como uma estatua ao meu lado, sem falar nada e com os olhos arregalados. Eu estava olhando para seu rosto em todo momento que acabei não percebendo o que ela olhava, virei a cabeça na mesma direção que seu olhar.
Um cachorro muito grande, todo preto, do tamanho de uma moto estava parado na frente de uma travessa.
Raissa soltou um pequeno gemido e olhei para ela de novo, estava ficando verde.
– Vamos atravessar a rua, não gosto de cachorros – ela disse, puxando minha mão. Meu corpo todo formigou com o seu toque.
Mas havia alguma coisa estranha com aquele cachorro, olhei melhor para ele vi que seus olhos tinham um leve reflexo avermelhado e me olhava como se esperasse meu próximo movimento para fazer o seu.
Um pássaro passou muito rápido pela minha cabeça e eu percebi que algo de ruim estava para acontecer, puxei Raissa pelo braço para atravessarmos a rua depressa.
Foi tudo tão rápido que não duvido que Raissa sequer tenha visto o que aconteceu.
No momento em que demos o primeiro passo em direção da calçada, o cachorro avançou sobre nós e no mesmo momento um flash clareou tudo ao nosso redor.
Por um mínimo segundo onde eu jurava ter visto um pássaro azul passar veloz, agora se encontrava um enorme gorila de no mínimo dois metros e meio de altura, com uma enorme mancha branca em suas costas, perfeitamente alinhada.
As pessoas que estavam próximas começavam a correr gritando, deixando seus carros parados com alarmes disparando e tentando filmar com seus celulares o que estavam presenciando. Aproveitando a confusão sai disparado com Raissa, para tirá-la dali.
O enorme cachorro-lobo avançou no gorila e levou um soco que o fez choramingar e bater em uma lixeira, que despencou todo seu conteúdo em cima dele.
Olhei para o enorme gorila e o vi fungar e mexer a cabeça como se estivesse me mandando sair dali e não esperei um segundo aviso.
Depois de correr mais dois quarteirões sem pausas, os gritos já haviam parado e ela me avisou que havíamos chego na porta do seu condomínio, mas a puxei quando ela tentou me fazer entrar pelo portão e atravessei a rua com ela novamente, levando-a para o que parecia ser um beco sem saída, e me encostei na parede para recuperar o fôlego.
– O que foi aquilo?! – ela gritava apavorada para mim – Não podemos ficar aqui, aquela coisa olhava para nós como se fossemos... Comida!
– Temos que esperar – avisei a ela, a respiração voltando ao normal.
– Esperar o que? – ela falava furiosa e apavorada ao mesmo tempo – O que era aquilo?
– Eu não sei, eu não sei – falei no mesmo nível, ela não precisava gritar, que culpa eu tinha? – temos que esperar o meu... Amigo.
– Eu não tenho que esperar nada, eu nem conheço você – gritou para mim, cuspindo as palavras, e começou a andar de volta para o outro lado da rua.
Eu puxei seu braço e senti meu corpo todo tremer, quando ela virou, olhou nos meus olhos, não sei o que ela sentiu mais foi alguma coisa maior, pois no segundo seguinte parou de debater.
– Quem é o seu amigo? O que você quer comigo? – perguntou se sentando no chão, e me sentei ao seu lado.
– Eu não... – comecei a falar para, mas algo me interrompeu.
Um pássaro azul berrante curvou as asas e entrou no beco, me levantei no mesmo instante, sentindo minha cabeça latejar e sem querer enverguei os ombros.
Um forte flash e o que era um pássaro agora era o famoso mendigo, que me causou tanta confusão. Ele parou a minha frente e olhou para Raissa como se ela fosse culpada dele estar naquele estado, sujo e fedendo.
– Cachorro maldito, rasgou minha roupa – disse mais para ele mesmo do que para nós, estava totalmente nú – Ah, me desculpe mocinha – disse para Raissa, parecendo não sentir culpa nenhuma.
Olhei para ela como se pedisse desculpas, mas foi mais rápida do que eu, puxou minha blusa e eu entendi o que ela queria fazer. Tirei-a e joguei para o meu “amigo”, que enrolou em torno da cintura.
– O que está acontecendo aqui? - perguntei a ele, um pouco mais calmo mais ainda com a cabeça latejando – E o que era aquela coisa?
– Eles estavam atrás de você – ele me respondeu com certa frieza na voz.
– Eles? Mas só tinha um cachorro enorme lá, antes de você aparecer – falei horrorizado, agora realmente não entendia mais nada.
– Estavam espiando, o cachorro era uma cobaia, vamos logo ela tem que ir para casa.
– Tudo bem, mas depois você vai me contar tudo o que está acontecendo – resmunguei rabugento, pegando a mão da Raissa (meu corpo todo estremeceu por um segundo) e levando-a para o portão do condomínio.
– Vou esperar aqui e... Obrigado pela roupa criança – ele gritou, soltando uma gargalhada um pouco rouca, como um balbuciar de gorila.
Ela não falou nada até chegarmos a porta do apartamento, estava pensando o que se passava na mente dela, talvez...
“Esse menino é louco, tomara que ele vá embora e eu nunca mais tenha que falar com ele” ou “Que demais, cheguei em casa viva!“. Só sei que qualquer um desses pensamentos me apavorava por inteiro, mas quando ela abriu a porta ouvi uma coisa inesperada:
– Vou ver você amanha? – disse com a voz baixa, quase inaudível.
Eu olhei nos olhos dela, e senti certo medo daquilo:
– Você ainda quer me ver depois de tudo o que aconteceu, esse cara que vira... – eu não consegui terminar a frase – bom... Eu espero que sim, mas quero que me prometa uma coisa.
– O que? – ela perguntou um pouco mais animada.
– Você não vai sair de casa, de jeito nenhum, depois do que aconteceu nesse meio tempo em que andei com você, acho melhor não arriscar sair sozinha.
– Tudo bem – ela respondeu um pouco aborrecida, e eu vi desapontamento em seu olhar.
– O que foi?
– Eu tinha combinado de sair com o meu namorado mais tarde – respondeu mais desapontada ainda.
O que?! NAMORADO? Eu não sabia que ela tinha um namorado!
– Hã... Certo... Faça o que eu peço amanhã você pode se encontrar com seu... Namo... rado – gaguejei a ultima palavra.
– Ok – ela disse abrindo a porta e entrando na casa.
– Então, até a manha – me despedi totalmente deprimido.
– Até – soltando a bolsa no chão, ela beijou minha bochecha.
Senti algo queimar dentro de mim, diferente de todas as sensações que eu havia sentido em toda minha vida.
Sai para o corredor em que dava o elevador sem falar nada. Ela ficou esperando na porta até ele chegar, quando entrei no elevador, ouvi a porta bater e trancar alguns andares acima.
Passei pela portaria fazendo um aceno de cabeça para o porteiro, ele correspondeu e abriu o portão automático do prédio.
Corri para o outro lado da calçada e entrei no beco, aonde o mendigo me esperava sorrindo.
– Que demora em guri, o que estavam fazendo o que lá em cima? – perguntou ironicamente.
– Nada – respondi mal humorado.
A descoberta de um namorado mexeu com os meus neurônios do mesmo jeito que o beijo mecheu com o meu corpo.
– Quero te fazer duas perguntas antes de qualquer coisa, e quero as respostas verdadeiras e completas.
Ele não respondeu, apenas continuou sorrindo.
– Certo, primeiro, quem é você? – pergunte mais agressivamente do que queria, e senti meus olhos arderem novamente, agora que teria respostas, extravasaria minha raiva com quem merecia – e o que você é?
- Bem, acho que poderei te responder as duas perguntas – ele me disse mais negativamente agora, de má vontade – Meu nome é Jason White, sou um Morfo.
– Um o que? – perguntei, soltando uma gargalhada ao ouvir a segunda resposta.
– Morfo, é o que você é, o que eu sou – ele me respondeu sem ligar para minha risada.
– Eu não sou igual a você, ainda que não tenha me explicado o que é isso – gritei enfurecido, sentindo meus olhos arderem mais fortes ainda – você se transforma em animais com um flash que eu nem imagino da onde vem, eu não sou nada parecido com você!
– Se acalme garoto – ele me alertou, sem se exaltar.
Como poderia ficar calmo com tudo isso?! Eu estava enfurecido, tanta coisa acontecendo em uma manhã só, era tudo muito estranho.
– Quero saber tudo e se eu sou assim quero que me prove! – gritei novamente sentindo meu coração bater dez vezes mais fortes sobre o meu peito, ameaçando explodir.
– Para isso vai ter que me acompanhar – jogou a blusa para mim e com outro flash ao qual eu já havia me acostumado, o pássaro azul berrante já havia voltado a minha frente e começado a bater as asas, esperando que o seguisse.
Se não teria escolhas, segui caminho com o meu amigo diferente, deixando para trás (pelo menos naquele momento) uma coisa que me fazia bem.

Essa história pertence a
Guilherme Freitas de Aguiar

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