quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Eae galera

Eae galera, aqui é o Guilherme Freitas ( O Escritor ) e eu estou com a minha história parada faz algum tempo, não é 100% por falta de vontade, mas é que as pessoas lêem e não comentam não pedem mais, eu não quero ficar escrevendo pra ninguém, então se você quer ver mais capítulos de Animorfose, deixa um comentário nesse post, me ajudaria a animar pra escrever, para pelo menos uma pessoa.

Obrigado desde já,
Guilherme Freitas

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Capítulo 5 – Quando eu penso que tudo passou, BAM! Bomba na minha cabeça, será que eu sou realmente mal assim para merecer essa confusão?! (REFORMADO)

Capítulo 5 – Quando eu penso que tudo passou, BAM! Bomba na minha cabeça, será que eu sou realmente mal assim para merecer essa confusão?! (REFORMADO)

Se alguém tivesse conseguido ver a velocidade em que eu corria, com certeza essa pessoa seria premiada. Corria pela rua pouco movimentada de carros e a minha volta não era possível se ver nada, exceto borrões das casas e lojas que iam ficando para trás conforme tentava me salvar.
Com certeza se estivesse andando em forma humana, levaria em media de cinquenta minutos para chegar em casa, mas com aquela velocidade, chegaria em menos de quinze minutos.
Passei por um relógio em um grande prédio luxuoso e me assustei quando vi que eram quatro e cinquenta e cinco. A rua logo estaria apinhada de carros e pessoas acordando para mais um dia de trabalho, mas a minha sorte é que estava perto da ponte ao lado do condomínio.
Resolvi acelerar o passo na intenção de deixa-los para trás, mas quando olhei para ver a distância que estavam não havia mais carro nenhum me seguindo, mas isso não significava que tinha escapado.
Olhei para frente novamente, estava de frente para a ponte e aos dois lados haviam as saídas de retorno e o rio, e foi nele que me joguei.
Seria muito mais seguro passar pelo rio por motivos óbvios. Na ponte já havia um numero maior de carros, que vinham das pistas rápidas e entravam pelos contornos para a ponte, o risco de ser cercado por aqueles homens era bem maior.
A correnteza não era problema para mim, a força em minhas patas eram o suficiente para parecer que eu estava nadando em uma piscina. Atravessei o rio rapidamente, me sacodindo inteiro para secar quando sai dele.
Ouvi pneus cantando e olhei para minha direita, a van estava descendo velozmente pela contramão na ponte, fazendo alguns carros desviarem. Não esperei mais nem uma manobra radical ocorrer, voei em direção a minha casa, deixando-a para trás novamente.
Não seria seguro passar por aquela área daquele jeito pela manhã, varias pessoas saiam para trabalhar e não aumentaria a minha popularidade ser visto como um cachorro gigante de cinco metros de altura, resolvi que seria melhor voltar a ser apenas um garoto e deixar a sorte me guiar.
Voltei ao normal na primeira curva para entrada de barro da favela, pensando no jeito que Raissa havia me olhado aquela manhã, foi o suficiente para no segundo seguinte voltar a ser um menino com um macacão maior do que o corpo, descalço e quente demais, febril.
Corri para dentro da favela, sempre indo para a esquerda, visando o condomínio, que estava logo ao lado dela, depois da estação de trem. Passando por pessoas com cara de sono, e travessas com buracos. Sai num matagal e consegui ver a estação de trem e meu prédio além dela.
Corri como nunca antes, e ouvi barulhos de passos pesados, havia gente atrás de mim, mas não tentei olhar para trás, continuei correndo até chegar ao muro da estação de trem, (o qual pulei sem ligar para os berros do segurança) correndo pelos trilhos e passando pelo outro muro. Os passos pararam, mas eu não.
Continuei correndo por mais cinco minutos até chegar à entrada do prédio, mas desviei a entrada principal e fui pelo portão de cargas, a fim de evitar perguntas inquietantes do porteiro ás cinco da manhã de como eu tinha saído sem ser visto.
Subi o morro que ficava de frente para a minha janela no mesmo pique da corrida, me virando para pegar impulso e alcança-la, mas no ultimo segundo algo me fez parar.
Douglas estava parado lá em baixo, olhando para mim, com os ombros envergados e os caninos a mostra, pode ter sido uma alucinação, mas juro que vi um reflexo amarelado em seus olhos, mas antes que pudesse confirmar, um borrão sujou a cena e ele havia sumido.
Ignorando tudo aquilo, dei dois passos para trás, e pulei.
A minha sorte era que a janela estava aberta porque no momento em que me encostei na parede escorreguei, mas consegui segurar na parte quina, e pulei para dentro do meu quarto.
Fechei a janela mas não deitei na cama. Corri para o banheiro. Fedia como um porco. Ter pulado no rio talvez tivesse sido uma boa ideia de primeiro momento, mas não tão boa assim.
Alguém bateu na porta e ouvi minha mãe avisando que era para tomar banho rápido antes que atrasasse para o colégio.
“ Pelo menos eu cheguei na hora certa, depois de tudo aquilo, consegui.” – esse pensamento me acalmou por alguns segundos.
Tomei um banho rápido e tirei aquele fedor de mim. Joguei a roupa que Jason havia me arrumado no chão e pensei se ele teria tido tanta sorte quanto eu e se havia conseguido escapar, mas não me preocuparia com aquilo agora, ele com certeza sabia se cuidar melhor que eu.
Escondi a roupa na mochila quando fui para o meu quarto e me arrumei, coloquei roupas extras também, para o caso de algo sair do controle.
O elevador chegou e como sempre encontrei o meu amigo Douglas, mas algo estava diferente aquela manhã:
- O que aconteceu com o seu olho? – perguntei pra ele, sem nem desejar um bom dia.
Seu olho direito estava escondido atrás de um enorme hematoma roxo, que parecia ser recente, ele tentou jogar seu cabelo por cima do machucado, mas não foi muito feliz.
- Não é da sua conta – ele me respondeu friamente.
- Tudo bem, só queria ajudar – lhe devolvi com a mesma frieza.
- Então não tente, você já fez demais por mim – sua voz foi mais alarmada, alterado
- Do que você está falando? – perguntei confuso.
- Como anda seu mais novo amigo, em? – ele desdenhou e um sorriso apareceu no canto da sua boca, relevando um canino bem afiado para qualquer pessoa, ao menos talvez, eu e Jason quando estamos brincando de “mamíferos”.
- Você só pode estar louco! – mas me entreguei ao falar, minha voz foi de fria para amedrontada.
Não tinha como ele saber de Jason, nem do que eu realmente era, foi então que veio na minha cabeça a imagem no morro.
Durante o banho havia pensado que aquilo havia sido apenas um sonho, ou uma alucinação por conta de toda a adrenalina, mas olhando agora para ele, parecia muito mais real do que apenas uma visão.
- Muito pelo contrario, estou muito melhor do que você pode imaginar, agora que sei com quem estava me metendo.
Eu não quis acreditar, mas ele realmente sabia.
A porta do elevador se abriu e pareceu que aquela descida de dois andares demorou uma eternidade. Ele saiu dando passos longos e tentou jogar a porta na minha cara ao invés de segurar, mas eu a segurei e corri atrás dele.
- Douglas, como você ficou sabendo? - perguntei com raiva, segurando em seu braço para não recomeçar a andar e soltei quando ele gemeu, porque também parecia machucado.
- Alguns dos seus amigos me visitaram ontem, você passou em casa á pouco tempo e pelo o que eles me disseram, o seu cheiro impregnou a casa – ele riu com a última parte, uma risada maligna, que com certeza não lhe pertencia.
- Foram eles que fizeram isso com você? – perguntei calmamente, fingindo não ter ouvido a risada.
- Não te interessa... – ele olhou para minha cara e seus olhos se arregalaram.
Senti meus olhos arderem e provavelmente deviam ter ficado amarelados novamente.
- Sua aberração! – ele brandou e saiu andando a passos longos, bufando entre os dentes..
Não tentei ir falar com o Douglas porque provavelmente não daria em nada, então fui pegar o trem.
Quando cheguei há entrada da estação, não passei o bilhete pela catraca, virei e pulei o mesmo muro que havia pulado a menos de meia hora, que dava nos trilhos. Por um pensamento idiota resolvi que não iria para o colégio de trem e sim em quatro patas.
Me despi e coloquei o macacão que estava dentro da mochila, e a palavra surgiu em meus lábios, fácil e simples.
- Animorfose.
A transformação aconteceu e em segundos, no outro me vi forte como um lobo e tamanho de um carro.
A pior coisa que poderia ter feito, era passar como um lobo na frente de várias pessoas que esperavam o trem, mas alguma coisa no meu interior me falava que não voltaria mais ali, que não voltaria mais para minha casa por um bom tempo.
Peguei a minha mochila com os dentes e a passei pelo pescoço, sufocou um pouco no começo, mas depois pareceu alargar e ficar normal. Resolvi que seria melhor se esperasse o trem que seguia para o lado do meu colégio parar, pelo menos evitaria que uma boa quantia de pessoas me visse, a outra parte, que estava quase vazia, poderia pensar que o sono ainda não lhes avia deixado ainda, fazendo ver lobos gigantes com mochilas da Nike presas em seu pescoço.
O trem fez a curva e eu me deitei no mato ao canto da estação, que me cobriu até a metade. Não tinha reparado até ali na minha cor, porque naquela madrugada da minha transformação estava escuro.
Tinha os pelos marrons avermelhados, com pequenas manchas pretas em alguns lugares, foi há única coisa que consegui registrar de mim mesmo por falta de um espelho.
Quando o trem ele passou, corri atrás dele, mas antes que pudesse entrar no meio dos trilhos e sair disparado, alguma coisa me parou.
Uma corrente elétrica percorreu todo meu corpo, fazendo rosnar tão forte que algumas pessoas olharam em minha direção, me fazendo recuar. Olhei para trás tentando descobrir o que havia me parado e vi um fio azul estava preso na minha coxa direita, voltei para o mato e tentei guiar meu olhar até a outra ponta do fio.
No momento em que consegui chegar até a outra ponta do fio, esperando encontrar vários homens vestidos de preto, me surpreendi.
Segurando o fio metálico encontrava-se apenas uma pessoa, com uma mochila nas costas e um olho totalmente escuro mesmo a distancia que estávamos foi fácil dizer, Douglas.
Na outra mão segurava um celular que eu sabia não pertencer a ele, falava rapidamente com quem quer que fosse e parecia prestes a fazer uma loucura. Seu olhar sobre mim era quase doentio, não parecia ter noção dos próprios atos.
Eu não sabia quanto tempo aguentaria aquelas descargas elétricas, e não poderia abusar da sorte muito mais, então mordi o fio na tentativa de me soltar.
Enquanto tentava me soltar, um único pensamento passava pela minha cabeça.
“Não posso acreditar que meu melhor amigo, está do lado dos caras que tentarão me matar, não quero, mas se conseguir escapar, não vai ter volta, ai! Esse negócio da choque!”.
Me corpo estava formigando, e minha cabeça estava para estourar, e não via um jeito de conseguir estourar as corda estando tão fraco, então comecei a me afastar, me arrastando para o oposto dele. O fio não tentava me trazer de volta, mas conforme eu conseguia me afastar, as descargas começavam a ficar mais fortes, só que a intervalos maiores, dando tempo para conseguir respirar.
Douglas estava tão absorto em sua conversa que não percebeu minha tentativa de fuga e que o aparelho estava começando a falhar.
Entrei no meio de um arbusto seco a um pouco menos de dez metros de onde estava quando comecei a me puxar, e comecei a enroscar o fio nele, na tentativa de estourar. Uma ultima descarga forte e violenta passou e com uma sorte dos céus, consegui me soltar. Estava tremendo e fraco, mas livre. Foi nesse momento em que ele se tocou.
Olhou para o arbusto e apontou o aparelho de novo para mim, mas parecia que depois de alguns segundos o efeito das descargas sobre mim já haviam cessado, fui mais rápido.
Escapei e o fio bateu no chão e voltou, como uma língua. Rolei para a direita e levantei rosnando. Corri para cima dele tão rápido que não teve tempo nem de pensar.
Pulei a uma distância de cinco metros dele e minha pata direita bateu com força sobre seu ombro esquerdo, fazendo cair e bater a cabeça nos trilhos do trem.
Eu queria mata-lo, tinha absoluta certeza que ele teria feito o mesmo comigo há alguns minutos atrás. Meus dentes estavam arreganhados para fora e meu focinho estava de frente para o seu rosto.
Mas eu não poderia.
Não poderia machuca-lo mesmo que quisesse, era o meu melhor amigo, um ser humano inocente sendo forçado por outras pessoas. Não podia deixar o instinto daquela “coisa” me guiar.
Cravei os dentes na sua canela e o puxei para fora dos trilhos, não fui muito gentil na parte de “cravar os dentes”, para evitar o caso dele resolver levantar e tentar fazer alguma coisa que não devesse quando recobrasse a consciência.
Ainda como lobo, me sentindo mais forte e tremendo menos, remexi sua mochila e joguei tudo que considerei perigoso no meio do mato, e não eram poucas coisas.
Além do celular e mais um aparelho que resolvi apelidar de “Elétrico” havia duas coisas que pareciam granadas, só que eram prateadas e tinham luzes azuis neon nas pontas, os quais não quis descobrir o que realmente eram, uma faca prateada com as siglas “TB” na parte de couro dela que me confirmou que aquilo que estava me perseguindo era algo, mais complexo que Killer’s, e um livro preto que estava com um cadeado com as mesmas siglas e parecia ser algo que não pertencia a ele.
Depois de me livrar de tudo e deixa-lo escondido no mato com a perna sangrando por baixo da calça, fui em direção ao meu destino, onde esperava estar salvo disso, cheio de raiva e ódio, segui em direção ao colégio.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Atraso na postagem do 5º capitulo

Galera, eu nao vou conseguir postar o 5º capitulo essa semana, estou entrando em provas bimestrais e preciso tirar as melhores notas possiveis pra nao ficar de recuperação final em nenhuma outra materia além de matematica, entao nao tive tempo de escrever nada, me desculpem, acho que até o segunda eu posto o 5º capitulo

Guilherme,

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Capítulo 4 – Você vai ter que se mostrar veloz para conseguir me alcançar, amarra esse seu tênis porque eu vou sair voando!(REFORMADA)

Capítulo 4 – Você vai ter que se mostrar veloz para conseguir me alcançar, amarra esse seu tênis porque eu vou sair voando!

O que eu estava sentindo naquele momento era uma coisa estranha, inexplicável, surreal!
Cada célula do meu corpo berrava de dor, como se estivesse derretendo. Meus olhos ardiam de tal maneira em que pareciam ter caído vários e vários produtos químicos nele e eu sentia minhas costas doerem como se tivessem envergando-a sangue frio.
Eu não sabia o que estava acontecendo e não sabia quando pararia, então só me restava esperar, mas de repente parou, como se nunca tivesse acontecido e eu me vi com a respiração forte, com a cabeça quase encostada no chão liso e gelado de Jason.
– Garoto, você está bem? – ele perguntava pra mim, mais alto do que o normal, estava agachado ao meu lado e seu tom de voz era muito preocupado, de um jeito que não tinha ouvido ele falar antes – Garoto, olhe para mim, respire fundo, tente se concentrar, você consegue.
Sentia meu corpo todo doer, e ainda não conseguia falar, então apenas tentei resmungar, mas me arrependi disso no mesmo segundo.
Um grunhido estranho saiu do meu peito e ecoou sobre todo o aposento, como o de um cachorro gigante.
– Isso, tente se comunicar, não fique com medo – ele me incentivou – Como você é grande rapaz, no começo com a minha primeira forma, não era tão grande assim, vamos lá, tente se levantar.
Tentei me levantar, mas parecia que meu corpo não me respondia aos meus pedidos, meu coração batia dez vezes mais rápido do que o normal, mas aquilo não me incomodava, a dor da minha cabeça era tão forte, que estava impressionadoq e ela ainda não tivesse explodido.
– Vamos, eu sei que você consegue guri!
Eu me forcei novamente, ignorando a dor de minhas pernas.
Consegui me colocar de pé, e cai novamente, mas não pela dor que sentia e sim pelo o que eu havia percebido.
Até aquele momento não havia abertos os olhos, que ainda queimavam um pouco, mas quando o fiz tudo estava preto e branco, sem cores, sem nada, a única figura colorida era Jason a minha frente que tinha um tom vermelho sangue, e uma linha branca que ficava em torno do seu corpo, fina e marcante.
Percebi que minhas pernas não eram pernas, e sim patas, enormes patas!
Senti dentes pontiagudos na minha boca e conseguia sentir o cheiro de tudo dez vezes melhor do que o normal.
– Sim rapaz, um lobo! – Jason falou alegremente, olhando para mim – Um grande e bonito lobo, você reflete coragem com essa forma, não são todos que começam com um animal como este!
Olhei horrorizado para ele (não me pergunte como é a cara de um lobo horrorizado, nunca tentei descobrir). Como um lobo poderia ter quase dois metros de altura, e como EU poderia ser um lobo?
– Não precisa se preocupar, você vai se acostumar e se conformar, não adianta ter medo do que você é porque não vai mudar a verdade que corre em suas veias – Jason disse novamente, parecia que ele conseguia ler meus pensamentos, ou talvez, na minha cara canina estivesse estampada todas as minhas perguntas – Para voltar, como eu disse, a pessoa tem que ser sua essência, a pessoa que faz você ser o que realmente é, pense nela, faça dela você.
Fiz tudo o que ele pediu, me concentrei naquilo que mais me importava desde o momento em que toda aquela maluquice começava a fazer sentido.
“Pela Raissa, vou além”.
Senti meu corpo fazer o mesmo processo, mas agora foi muito mais calmo, com uma sensação quase boa.
Quando voltei ao normal, não sentia mais nenhum tipo de dor, meus olhos não ardiam e me sentia até melhor do que antes da minha primeira transformação acontecer. Parecia mais forte e confiante, como se pudesse fazer qualquer coisa que daria certo.
– Vista isso – Jason me jogou, um macacão parecido com o seu, só o que era preto e ficou um pouco largo pra mim e roupas normais, uma calça jeans, uma camisa xadrez preta e um par de sapatos – Depois poderemos fazer um para você, isso é uma roupa que podemos chamar de “especial”. Ela tem um ajuste pratico a todos os tipos de transformações, quando assumimos uma forma ela solta do seu corpo sem você precisar se despir, o grande problema é como ficar andando com ela na boca ou de qualquer outro jeito, estou tentando bolar algum apoio pra poder levá-la por isso não uso muito ela.
Não respondi, ainda estava assimilando o fato de ter virado um lobo gigante. As minhas roupas do colégio estavam rasgadas e jogadas no chão do lados do meu pé esquerdo, sem chance de concerto, não teria desculpas para dar a minha mãe sobre o que tinha acontecido.
– Acho que está na hora de ir para casa, sua família deve estar preocupado – ele olhou para o relógio que estava acima da grande televisão de LCD, que marcavam 18h, e novamente achei estranho ele conseguir saber o que eu pensava.
– Estou lascado! – gritei – Tenho que ir para casa agora, minha mãe deve estar uma fera!
– Acredito em você. Eu vou te acompanhar de volta a Pompéia, acredito que você vá conseguir chegar a sua casa sem grandes problemas, vamos.
A volta realmente não tinha sido um grande problema, ao subir de volta para o lago artificial não precisei de um tanque, consegui segurar a respiração tranquilamente pelo buraco até chegar ao seu topo, no começo me assustei quando Jason me pediu para fazer aqui, mas quando vi que iria funcionar, continuei.
Minha mochila ainda estava jogada no mesmo lugar em que havia deixado, mas o céu agora estava tingido de um azul escuro em uma parte e mais claro em outra.
Voltamos pelo barranco, passando pelo portão enferrujado e saindo na rua desconhecida, que agora estava muito macabra sobre o azul escuro e totalmente vazia.
– Bom aqui eu me transformo, mas estarei por perto – ele avisou.
– Jason, espera – eu falei para ele, a voz um pouco embargada – como eu faço pra me transformar?
Ele me fitou por um segundo, parecia que estava calculando se eu era merecedor de um segredo tão importante.
– Bom... Você só tem a sua forma inicial “aberta”, e não acho que seja uma boa abusar dela principalmente pelo seu tamanho, mas para poder virar o seu morfo inicial, você precisa pensar na palavra chave.
– Palavra chave? – perguntei sem entender, há poucos minutos não tinha precisado usar nenhuma palavra chave para poder virar um lobo gigante na sala dele.
– Existem certas lendas antigas sobre certos animais, eles tinham conhecidas siglas para poder diferenciá-los, as palavras são o ponto de encontro entre a animorfose e a sua genética humana, você precisa saber qual é a sua palavra para poder liberar o seu morfo inicial.
– E que tipo de palavra é essa – perguntei, poderia ser qualquer coisa no mundo!
– A de sua vontade, no momento certo ela vai lhe ocorrer, por exemplo em uma situação de perigo ou um momento de raiva suprema, a palavra que vier na sua cabeça, vai ser carregada para sua morfose pelo resto da sua vida – ele desdenhou – tive um amigo morfo que por acidente pensou em bundas, ele estava fazendo... – ele me olhou, e por segundo repensou no que falar – bom, tanto faz.
– Certo... A palavra certa, na hora certa pode me fazer mudar – pensei em qual seria o momento certo – Isso funcionaria com todas as formas?
– Não rapaz, para cada forma você tem que ter um certo “treino de liberação”, mas isso não importa para você agora, tem coisas mais importantes para se preocupar.
Então com um flash ele sumiu e a minha frente apareceu um pássaro azul berrante.
Fiquei imaginando se eu teria me transformado em um flash também ou se o processo tivesse sido lento e doloroso a vista do meu telespectador Jason como havia sido pra mim.
Andamos mais ou menos uma meia hora de volta para a avenida Pompéia. Jason me guiou até um ponto que dava de frente para um famoso shopping local, perto da estação. Não se destransformou novamente para se despedir, apenas fez um circulo no ar e voltou pelo mesmo caminho que fora.
Um pensamento estranho tinha vindo a minha cabeça novamente, não conseguia me lembrar qual caminho usará pra volta, e fiquei muito bravo, pois agora não sabia onde Jason morava, de novo.
Peguei o trem lotado, havia muitas pessoas saindo do trabalho naquele horário, todas com aparências e roupas iguais, social composto por ternos e terninhos, carregando pastas e com caras de cansados.
Desci quinze minutos depois de tomar o trem na minha estação e fui correndo para casa, com roupas que não me pertenciam e com provavelmente pensando na bronca que levaria. Não poderia dizer qual era expressão do meu rosto naquele momento, mas provavelmente não era nada convencedor a uma mentira.
Cheguei a frente do meu prédio sem problemas de cansaço por ter corrido os 200 metros da estação até ele, continuava a respirar com se tivesse caminhado um pouco mais depressa do que o passo normal.
Quando passei correndo pela portaria, o porteiro me avisou com um tom de voz urgente:
– Guilherme, sua mãe está preocupada, ela está atrás de você o dia todo!
– Eu sei, eu sei, obrigado – respondi passando correndo por ele.
Peguei o elevador e cruzei os dedos para a bronca não ser tão ruim quanto provavelmente seria.
Abri a porta de casa, encontrei-a sentada com as pernas cruzadas tão fortes que pareciam coladas, seu rosto estava branco cal, e tinha os olhos injetados, como se estivesse chorando.
– Onde você estava Guilherme, eu fiquei preocupada, você não voltou do colégio, não avisou onde foi , achei que tivesse acontecido alguma coisa! – ela berrou e chorou tudo no mesmo segundo, deixando de lado a cara de brava, enquanto levantava do sofá e olhava para mim, avaliando meu estado.
– Eu... Eu fui jogar bola com uns amigos, acabei me esquecendo de avisar – respondi a ela, tentando convencer, e duvido que isso tenha acontecido – desculpe mãe.
– Certo, eu te desculpo, agora vai tomar banho que você está fedendo a cachorro molhado, você andou brincando num canil, e cadê suas roupas? – ela perguntou tampando o nariz e indo para a cozinha, com a voz um pouco mais calma.
– Elas sujaram quando eu estava jogando futebol e um amigo meu me emprestou essas, depois eu pego com ele – teria que gastar o dinheiro da minha mesada para comprar as roupas novas, mas não me importei, seria pior falar a verdade.
Não reclamei quando ela voltou a gritar novamente sobre minha irresponsabilidade, não queria que me fizesse mais perguntas. Não precisaria mentir se ela não me forçasse.
Depois de um banho demorado, arrumei alguma coisa para comer e fui para o meu quarto “dormir”.
Eu não queria ficar deitado a noite toda na cama, fingindo dormir. Havia tantas coisas que poderia fazer durante a noite, não precisava descansar pelo que Jason tinha falado, e tive a insana vontade de aproveitar.
Esperei até ter certeza que todos estavam dormindo, tranquei a porta do meu quarto e vesti a roupa elástica que havia jogado dentro da mochila na hora em que tinha entrado no banho.
Abri a janela do meu quarto silenciosamente, pensando em como conseguiria pular do segundo andar sem me quebrar todo, ou pelo menos sem chamar a atenção de todos com aquilo, mas alguma coisa me dizia que eu poderia fazê-lo que não seria problema.
Pulei esperando que quando tocasse o chão o barulho fosse tão alto que todos iriam abrir as janelas para olhar um garoto com a cara grudada no chão, todo estatelado, mas quando encostei na superfície, instintivamente rolei, não fazendo nem um ruído e ainda saindo ileso.
De frente para o meu quarto tinha um morro, que alcançava o sexto andar do meu prédio. No topo ficavam mais prédios, e sempre que ouviam barulhos altos, os moradores reclamavam. Então resolvi que seria melhor dar a volta no prédio e sair pela entrada principal.
Corri rapidamente na direção do porteiro noturno que estava lendo uma revista e pareceu não me notar, mas virei para a esquerda porque os únicos jeitos de passar era, ele abrindo o portão de entrada ou pular a passagem que era usada para cargas e mudança, escolhi a segunda opção, que com certeza era o mais seguro.
Foi extremamente fácil saltar o portão de cargas que tinha mais ou menos dois metros de altura. Sorri aprovando meu trabalho e sai correndo em direção a saída do condomínio.
Não estava preocupado em ser visto ou coisa do tipo, as calçadas do condominio estavam vazias excetos por um ou dois carros passando rapidamente.
Saindo do condomínio, corri a passos firmes, passando por duas pontes, vagando por ruas e travessas calmamente, refletindo sobre como a minha vida tinha mudado de um dia para outro.
Há vinte e quatro horas, estava reclamando no elevador para o meu amigo por ter vários sonhos estranhos e agora que sabia que eram reais, tudo era real. Olhei p ara os céus e pedi aos deuses para não serem.
Eu não havia percebido que tinha andado tanto e sem rumo nenhum. Quando finalmente olhei pra frente prestando mais atenção, me vi a cinco ou seis quarteirões do meu colégio.
Tive uma insana vontade de experimentar a minha forma animal, achei que às três da manhã não seria um grande problema se alguém me visse, sairia correndo e ficaria tudo bem, mas como havia acontecido tantas vezes naquele dia, estava enganado.
Pensei na palavra que me faria ser aquele “monstro”, poderia ser qualquer coisa, mas como saberia se aquela palavra escolhida me transformaria.
Um formigamento coçou minha nuca, senti um leve arrepio e sem saber o por quê, sussurrei:
– Animorfose.
No mesmo instante, aquela mesma sensação de queimação voltou a tona, senti meu corpo todo ferver e deixei rolar, a dor agora não era mais tão intensa, era mais calma e prazerosa.
Estava novamente equilibrado ha quatro fortes patas caninas, minha visão novamente estava descolorida, mas não sentia nenhum tipo de dor como da primeira vez.
Todos os prazeres da forma explodiram sobre mim como uma bomba, milhares de cheiros diferentes vinham a minhas narinas, alguns doces, alguns amargos e outros diferente de todos que havia sentido.
Experimentei correr.
Parecia deslizar pelo asfalto enquanto tudo a minha volta era um borrão. Cada passada que dava, era equivalente a dez passadas em minha forma humana. Sentia um pequeno incomodo cérebro, como pequenas descargas elétricas, mas não me incomodei.
Em menos de três minutos estava parado na encruzilhada do meu colégio, onde a minha volta encontrava-se além da escola, um dentista, um bar e um pequeno condomínio de três andares, todos fechados e com luzes apagadas.
De repente um zumbido alto e agudo começou a ecoar fortemente em meus ouvidos, como se alguém tivesse aproximado um celular de uma caixa de som e tivesse aumentado no ultimo volume, esperando interferência de sinal. Fechei os olhos tentando me concentrar, mas estava me incomodando demais.
Comecei a andar para trás, voltando na direção que tinha vindo, e o barulho começou a diminuir, então comecei a dar várias passadas para trás, tentando me livrar daquele som insuportável, saindo do quarteirão do colégio e voltando para o anterior, que era uma simples reta onde havia casas e algumas empresas fechadas.
Meu nariz parecia coçar então por instinto funguei fortemente, sentindo um cheiro estranho, apetitoso e muito diferente do que qualquer outro que passará por mim entre meus minutos de vida animal.
Fiquei tentado a ir atrás dele, e foi exatamente o que fiz.
A cada passada que eu dava, o som ficava mais alto e mais agudo, meu crânio parecia estar rachando, mas a vontade de chegar até lá, falava mais forte.
Cheguei a um ponto em que fiquei totalmente tonto e me destransformei involuntariamente, caindo no asfalto e deslizando quase dois metros, sentindo meus braços e perna ralarem.
Levantei a cabeça tentando ver onde estava, e senti minha nuca doer ao me mexer.
Olhei para um grande relógio que marcava quatro e meia da manhã, e vi que estava em frente um pequeno shopping na região da Lapa.
Quando tentei ver o outro lado, havia dois vultos parados, ambos na mesma posição, quase negros sobre suas vestes. Mas não pra mim.
Os dois usavam grandes sobre tudo pretos, chapeis que pareciam com cartolas amassadas, além de óculos, sapatos e luvas igualmente pretas.
O que não consegui enxergar era o que traziam nas mãos, mas era prateado e brilhava ao reflexo do farol que piscava a cima de minha cabeça.
Um deles apontou a coisa para mim, mas consegui me jogar para o lado no momento em que um fino fio azul choque prendia no asfalto que eu estava um segundo antes, fazendo um buraco no chão do tamanho de uma bola de tênis. O outro homem fez o mesmo movimento, mas não fui tão feliz quanto da primeira vez em escapar.
Uma descarga elétrica percorreu todo meu corpo, me fazendo gritar de dor. Tentei pedir para pararem com aquilo, mas eles riram.
– Vamos levar mais um hoje, que sorte – um deles sibilou, com um estranho sotaque, meio puxado no R, parecia ser americano.
– Esse foi mais fácil que o grandalhão que encontramos de manha – disse o que estava segurando o objeto prateado que me dava fortes descargas elétricas, falando normalmente, sem sotaque.
– Chega de brincadeiras, vamos levá-lo logo – respondeu o primeiro, andando em minha direção calmamente.
– Calma, olhe como ele se contorce, parece uma mola – respondeu o que me segurava, e senti um leve medo em sua voz, não estava achando engraçado.
Eu não tinha percebido até aquele momento, mas estava realmente me contorcendo muito. Não sentia mais meus braços e pernas, sabia que desmaiaria a qualquer segundo.
Tudo aconteceu tão rápido quanto da primeira vez, mas dessa vez não consegui entender direito naquela hora o que se passou, apenas olhei.
Um enorme tronco havia sido jogado em cima do homem que me segurava com o objeto elétrico, fazendo soltá-lo e o fio sumir, mas eu continuava a me contorcer de dor.
Um enorme gorila havia saído de cima do shopping e caído na minha frente, em um gesto de defesa, tinha uma listra branca que ia do começo do couro cabeludo até o fim da coluna. Era Jason.
Eu me levantei rapidamente, meu corpo já não doía tanto, mas eu estava tremendo muito, parecia que aquele fio continuava preso em mim.
– Animorfose – sussurrei, esperando sentir aquela queimação passar por mim e me fazer virar um enorme lobo, mas nada aconteceu.
Jason havia cuidado dos dois homens rapidamente enquanto raciocinava, dando um forte murro com sua mão gigante desmontou o primeiro e enquanto o segundo tentava apalpar um objeto no chão que ele não conseguia enxergar Jason ele pulou em cima dele, provavelmente o sufocando.
Um flash clareou a noite e Jason estava parado a minha frente, com o macacão preto junto ao corpo, com o objeto prateado a mão:
– Você está bem rapaz?
– Sim, por que você os matou? O que eles fizeram? – perguntei perplexo.
– Isso não importa, tem que sair...
Mas nesse exato momento ele tinha parado de falar, uma enorme van preta virou a rua com o farol acesso, e com vários homens totalmente de preto dentro dela, pelo que tinha conseguido enxergar.
– Ah, mer... eles ativaram o dispositivo – ele falou, com um olhar feroz dirigido a van – garoto, faça o que for, não deixe eles te pegarem, corre!
O flash me cegou e o gorila estava de volta, pulou sobre o shopping e sumiu nas sombras.
Eu tinha parado de tremer, e novamente tentei:
– Animorfose! – falei alto e em bom tom.
A sensação de queimação passou pelo meu corpo como um banho de água quente e no segundo seguinte estava gigante.
Olhei em direção a ponte que levá-la para minha casa e corri, sem olhar para trás e tentando não pensar que tinha um bando de killer’s na minha cola provavelmente prontos para me matar.



Essa história pertence a,

Guilherme Freitas de Aguiar

sábado, 26 de setembro de 2009

Capitulo 3 - Você me convenceu tão rapido que agora estou perdido,mas de uma coisa eu sei,eu vou lutar até a ultima batata brotar na terra!(REFORMADO)

Capítulo 3 - Você me convenceu tão rapido que agora estou perdido, mas de uma coisa eu sei, eu vou lutar até a ultima batata brotar na terra!

Eu acompanhei aquela ave por mais ou menos meia hora, imaginando a confusão que havia ficado lá atrás.
Não era nada normal para as pessoas verem um cachorro tamanho família e um gorila enorme no meio da cidade, por cima de tudo brigando. Gente correndo, tirando fotos e isso me fez pensar na confusão que poderia causar se eu fosse um deles, mas nada me preocupava mais do que a bronca que eu iria levar quando chegasse em casa.
Eu não sabia a hora porque a bateria do meu celular tinha acabado e não tinha como falar com minha mãe, e mesmo que quisesse seria estranho de explicar onde estava.
“Oi mãe, eu estou aqui no meio da rua te ligando de um orelhão, é, to seguindo um homem pássaro que consegue se transformar em animais, não se preocupa não, volto antes da janta!”
Percebi que havíamos chego aonde quer que fosse, porque o pássaro diminui a altura que estava e ficou bem próximo de mim. Olhando a minha volta me perdi completamente.
Havíamos ido além de onde eu conhecia, enquanto olhava tentando reconhecer algo que pudesse dar localização, um flash clareou minha vista e meu amigo mendigo Jason estava novamente ao meu lado. Joguei a blusa para ele e começamos a caminhar pela rua,ele vestido daquele jeito, não se importando que pudessem vê-lo.
Olhei novamente em volta prestando atenção nas pessoas e nas lojas que nos cercavam naquela rua reta e pelo que parecia, sem saída.
Não havia ninguém!
– Onde estamos? – perguntei tentando disfarçar o certo medo na voz.
Havia andando todo o percurso tão inconsciente de qual caminho estava seguindo que nem parei realmente para ver onde estava.
– Em algum lugar entre o fim do mundo e o começo de outro – disse ele sorrindo, fazendo a barba mexer e fazer um barulho estranho, de palha mechendo – Bom, não se preocupe com isso, o mais importante é chegar à toca.
Não perguntei a ele o que era isso, apenas continuei seguindo e torcendo para que tivesse todas as minhas respostas rapidamente para poder sair dali.
O lugar era macabro, varias lojas com aspectos de velhas estavam fechadas, parecia não habitada há tempos, com prédios de poucos andares com a mesma aparência.
Jason parou quase na metade do que do que julguei ser uma avenida, na frente de um portão de ferro verde com a tinta descascada, todo enferrujado. Quando o empurrou, fez um rangido forte e agudo que ecoou por toda a rua, mas ele não ligou.
Logo quando entrei, percebi que não ia para nenhum tipo de casa, o portão caia direto em uma ladeira de barro alaranjado com paredes estreitas o sulficiente para se descer e conseguir se apoiar.
Jason pulou pelo barranco e começou a deslizar como se fizesse aquilo ha tempos, e provavelmente fazia, desci segurando na parede para nao cair.
O barranco era pequeno como se fosse um corredor apertado, mas ao invés de escadas ou uma rampa, era terra fortemente alaranjada.
Não conseguia ver o que tinha no fim dele, mas me parecia que saia em um tanto de mato e quando terminei de descer isso me foi confirmado.
Jason estava parado com mato seco, que faz você se coçar bem rápido, até os joelhos e olhava para frente esperando que eu chegasse.
– Sabe, o homem consegue acabar com as coisas que lhe é importante mais rápido do que imagina, esse é um dos poucos lugares que ainda não foi industrializado, ou destruído, a natureza ainda vive fortemente aqui.
Olhei para aquele mato seco e feio, mas não falei nada.
– E esse lugar fica onde mais ou menos? – perguntei olhando em volta, realmente havia mato em todo lugar que eu olhava, exceto bem no centro do matagal, onde ele sumia, fazendo um buraco.
– Como eu disse, não importa, vamos – apressou ele, andando entre o mato levantando as pernas até a altura que seu pé descalço aparecer, dando longas passadas.
– Por que estamos aqui? Não disse que precisávamos ir para a toca? – perguntei a ele quando estávamos perto do buraco.
– Estamos indo, venha você vai precisar de equipamento – ele respondeu calmamente, fazendo o contorno entre o buraco.
Percebi quando havia me aproximado, que aquilo não era um buraco, mas sim um lago! Como podia ter um lago ali daquele jeito, sendo que estávamos em um ponto totalmente urbanizado da cidade?
Era do tamanho de uma entrada de garagem dos condomínios normais, larga para a passagem de carros, mas pequena para entrada de um caminhão. O que mais intrigava era o formato que possuía. Era exatamente circular, como se alguma coisa tivesse sido jogada ali.
Aquilo era muito estranho porque, o máximo de um lago e mato que você encontraria na cidade seria em livros de biologia ou em parques governamentais.
– Por que tem estamos nesse lago? – perguntei, fazendo-o olhar para trás e estreitar os olhos
– Você só sabe perguntar as coisas guri? – ele se abaixou e pegou um tanque de oxigênio e uma mascara no meio do mato alto, em um ponto em que o chão já ficava lamacento.
– Aah cara, me desculpa mas não vou nadar nisso nem a pau! – esganicei, voltando para onde a terra era firme e seca.
– Tudo bem, não vou te obrigar, mas não me encha a paciência com essa lorota de “resposta” “o que você é? O que eu sou?” – ele ralhou, jogando o tanque novamente no mato, dando um "baque" surdo.
– Eu nem tenho outra roupa para pular, você acha que vou voltar todo molhado para casa, tirando que isso é loucura! Isso é só um lago, para que precisaria de um tanque de oxigênio?
Ele pegou novamente o tanque e a mascara, me entregou e sorriu:
– Para ir para minha casa.
Com um forte suspiro, fechei os olhos tentando decidir o que iria fazer. Ele tirou a minha blusa (me fazendo virar de costas enquanto prendia o tanque e deixava a mochila de lado no mato, me arrependeria disso depois, mas ela não era impermeável ) e ouvi ele pulando no lago, sem equipamentos:
– Você não vai usar? – perguntei me esquecendo por um segundo o fato de ele ser o “Homem Animal” e provavelmente não precisar de nada para se transformar em um peixe ou algo parecido.
– Acho que não – ele deu um mergulho e um flash transformou o lago de um verde escuro em branco total por um segundo. Uma coisa escura havia submergido, parecia ser uma serpente parada bem no centro, totalmente negra com uma grande listra que percorria por todo o seu corpo.
– Você é quem sabe – pulei no lago com aquele equipamento pesado tendo total certeza que ainda conseguiria ficar com a cabeça para fora d’água, mas como sempre, me enganei.
Não necessitava de óculos para conseguir enxergar a minha volta, pois tudo era barro lamacento, não havia lago, mas sim um buracão com o mesmo formato, como se o lago a cima fosse uma fachada para o que se encontrava há baixo.
A única direção que era possível nadar era para baixo, um buraco fundo. Embaixo dos meus pés, havia uma serpente d’água fazendo círculos perfeitos em volta do meu pé, e com uma manobra começou a descer, comigo em sua cola.
No fundo desse “buraco”, a mais ou menos vinte ou vinte e cinco metros, tinha uma roda de ferro que brilhava fracamente.
Mesmo que minha visão estivesse mais aguçada sem óculos, embaixo d’água as coisas continuavam embaçadas e sem forma definida, mas quando estava a uma distância em que minhas mãos poderiam segurar a roda eu consegui ver o que ela era.
Uma porta com uma alavanca que poderia se puxar para cima, mesmo embaixo daquela água lamacenta a “porta” parecia totalmente nova, tinha até um toque de brilho, como se tivessem jogado ela ali ha pouco tempo.
Vi a serpente d’água ficar em volta da alavanca e tentar puxá-la para cima, percebi que não conseguiria, eu a puxei.
No mesmo instante senti uma força me puxando pelo umbigo, como se um anzol tivesse me fisgado. Fui jogado numa cabine prateada com toda a água a que me cercava um segundo antes, o tanque de oxigênio batendo forte no ferro ecoando tudo a minha volta e quando tentei abrir os olhos, um forte flash me cegou fazendo soltar um urro de raiva e fechá-lo novamente.
A água que caia fortemente sobre minha cabeça havia parado, soltei as amarras que tinha feito para segurar o tanque, fazendo cair das minhas costas, então tentei abrir os olhos novamente.
Havia água na altura do meu tornozelo e Jason estava parado ao meu lado, sua barba encharcada e pingando.
– Bom, demoramos, mas chegamos, seja bem vindo – disse ele, andando para uma porta com uma grande alavanca de ferro que eu ainda não tinha percebido.
Quando abriu me surpreendi com o que vi.
Estava diante de uma enorme sala, pintada de azul claro com uma listra finíssima branca que passava pelo centro de toda a sala, com tudo de bom que se pode imaginar.
Havia uma enorme televisão de LCD de provavelmente mil polegadas, vários vídeo games diferentes ligados, computadores, fliperamas, guitarras e vários outros instrumentos musicais. O sonho de qualquer adolescente.
Ao centro de tudo isso havia uma poltrona vermelha de chintz ao lado de um grande livro, onde Jason se sentou, rodando a cadeira para ficar de costas para mim.
Aos poucos vi cabelos caindo, a barba suja no chão e não consegui segurar a pergunta:
– Jason está tudo bem?
– Bom, quer saber o que somos? – virando novamente a poltrona para ficar de frente para mim, e o Jason que eu vi me assustou por um segundo.
Sentado na cadeira não havia nenhum mendigo, mas sim um homem de pele clara, com olhos vivos e brilhante e se percebia alto mesmo sentado. Cabelos negros profundos, com uma pequena listra que começava na testa, no começo do cabelo e ia até o fim, que batida em seus ombros, ondulados.
Ele já estava vestido quando se levantou, com um macacão azul escuro, que estava justo ao seu corpo, como uma roupa de mergulho.
– Somos morfos, seres diferentes de qualquer outro nesse mundo. Somos homens e mulheres que nasceram com uma diferença genética muito rara. Temos o dom de nos transformar em qualquer tipo de animal que desejarmos, contanto que tenhamos um treinamento de liberação a esse animal, como se fizéssemos uma missão para conseguir abrir a genética dele sobre nós.
– Como assim, diferença genética? Tem mais de você por ai? – perguntei assustado, evitando o "nós".
– Ah sim, existem muito de nós, mesmo sendo raro, acontece com muita freqüência, eu posso ser considerado um morfo jovem, enquanto a você, um novato.
– Por que aconteceu comigo, isso com certeza não é sorte, ou é? Por que não com outro garoto?
– As pessoas estão destinadas a essa vida, já nascem assim e não tem escolha. São gerações e gerações puladas até ela voltar em uma família, o seu tataravô pode ter sido um morfo, ou até mesmo o seu pai, sempre há uma ligação – me respondeu sério – mas você precisa saber uma coisa, não são todos de nós que são considerados “bons”, a maioria é selvagem e até mesmo maligna. Não é o meu caso, se acalme, não sinto necessidade em machucar as pessoas por simples prazer da raça – falou olhando minha reação - Normalmente caçamos as pessoas que nos interessam principalmente por cheiro, carne ou até mesmo motivos pessoais, e quando começamos, viramos maquinas de matar.
Meu coração parou, como se uma bomba tivesse acabado de explodir dentro de mim.
– Raissa! Tem algum morfo atrás dela? – perguntei imediatamente, não fazia sentido ele SÓ querer que eu a acompanhasse até sua casa.
Ele me olhou sério, mas não respondeu.
– Costumamos andar em bandos, de quatro ou cinco integrantes no máximo. Normalmente quando um membro do bando sente uma pessoa “aceitável” (como costumamos dizer), ele a caça até o ultimo segundo de vida de um dos dois. Infelizmente descobri a algumas semanas que tem um grupo de norte-americanos tirando férias no nosso país, e um deles se interessou pelo cheiro da sua amiga.
A bomba continuou a destroçar, fazendo um zumbido fraco ecoar em meus ouvidos.
– Quem?! Quem é?! – gritei sentido meus dentes tremerem – Temos que protege-la!
– Se acalme, tente se recordar. Hoje de manhã, quem estava com uma aparência estranha no momento em que nos conhecemos, tirando minha pessoa, é claro! – disse tentando descontrair a tensão.
Tentei me lembrar da manha que se passara, parecia ter acontecido ha tanto tempo, mas consegui ver um pequeno vislumbre de uma mulher com uma pasta, olhando atenta a todos a sua volta.
– A mulher com a pasta? – arrisquei.
– Exatamente, ela sentiu que seu cheiro era diferente das outras pessoas, como eu – ele olhou para o teto, como se pudesse ver através do ferro – ela nos seguiu até o seu colégio, por isso fui com você, para mostrá-la que não estava sozinho, mas infelizmente acabei arriscando a vida de uma pessoa com isso...
– Não... – falei com uma voz rouca, o peito ainda explodindo, me sentei no chão tentando pensar – não posso deixá-la mais sozinha.
– Eu ainda não acabei – ele falou aborrecido – tem mais algumas coisas que precisa saber.
– Fale rápido estou com pressa – meu coração batia tão rápido que poderia parar a qualquer segundo, e estava sentindo como se estivesse levando vários beliscões no corpo.
– Bem, quando nos transformamos pela primeira vez, ativamos um instinto de proteção e um ligamento fatal. Essa pessoa que nos liga, será o motivo para voltarmos ao normal quando mudamos de forma, sem ela seriamos animais para sempre, o ser humano com sua capacidade de pensar e amar com expressões acabam nos dando esse... incomodo por assim dizer.
Não precisei pensar para saber sobre quem era aquela pessoa para mim, mas uma coisa me incomodou.
– Quem é essa pessoa para você? – perguntei fazendo careta.
– Isso não interessa no momento – ele olhou para os lados, tentando disfarçar, mas quando virou para olhar para mim, seus olhos estavam azul muito claro, quase brancos.
– Então, rápido, continue – falei ainda pensando.
– Certo. Quando ocorre esse tipo de ligamento entre um morfo é um laço inquebrável. Mas o nosso real problema é que, o bando norte-americano está todo entrelaçado, a mulher que nós encontramos naquele vagão tem a ligação com o que podemos chamar de “chefe do bando”.
– Isso significa que se eu for caçá-la, todos me caçarão?
– É o mais provável – sua voz parecia ser de alguém que acabara de presenciar uma morte.
– Quero saber com quem você tem ligação, acabou de falar que só pode voltar a ser humano por causa de uma pessoa, quem? – eu tinha uma leve impressão da resposta.
– Ela não está mais aqui – resmungou, seus olhos continuavam no mesmo tom.
– Como assim, não está...
– Tudo bem, também era uma morfo, só que ela não se ligou a mim, foi com... outro.
Um choque passou por minha cabeça.
– Ah, não vai me dizer que... – eu não teria acreditado se não tivesse visto a expressão de seu rosto.
– Sim. Era ela, a nossa companheira do trem – ele olhou para o teto – por que você acha que estava vestido como um imundo? Precisava disfarçar o cheiro – ele voltou o olhar para mim, seus olhos ganhando cor – acho que a ultima coisa que precisa saber é como acabar com nós mesmos.
– Sim...? – perguntei, queria fugir do assunto.
Acredito que qualquer um a esse momento poderia ouvir meu coração batendo fortemente, me fazendo sentir dor.
– Metais enferrujados, é a única coisa que realmente nos feri, podemos tomar um tiro, ser tacados de lugares altos, vamos sentir dor, nos arrebentar, mas nada se compara a aço enferrujado.
Não falei nada por alguns segundos, ele provavelmente deve ter pensado que achei uma piada o único jeito de um humano anormal poder ser ferido, e realmente achei.
– Vou contar com você para desenvolver minhas transformações e habilidades? – perguntei abrindo um sorriso.
Ele abriu um largo sorriso e disse:
– Claro, e você precisa saber de mais uma coisa, não dormimos depois de nossa primeira transformação.
Então caí no chão, vencido pela dor em meu peito e senti todo o meu corpo esquentar, como se tivesse sido jogado em uma panela com água fervente, fechei os olhos e gritei.


Essa história pertence a Guilherme Freitas de Aguiar,

O Escritor.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Capítulo 2 – Se é pra ser assim, então que não seja, me deixa em paz antes que eu te ataque um rosbife gigante na cabeça ! ( REFORMADO )

Capítulo 2 – Se é pra ser assim, então que não seja, me deixa em paz antes que eu te ataque um rosbife gigante na cabeça ! ( REFORMADO )

Eu fiquei transtornado com tudo o que havia acontecido até ali.
Um mendigo maluco que parecia saber tudo o que estava acontecendo comigo tinha acabado de se transformar em um pássaro, e saiu voando. Pelo que me parecia, ninguém percebeu o que havia acabado de acontecer, mas antes que pudesse me confirmar como um maluco, meus amigos chegaram.
O meu grupo no colégio, era formado por, Victor, João, Acácio, Caio, Filipe, Iago, Liliane e Karina.
Victor era o típico garoto estudioso, magricela, adorador de desenhos japoneses e dos seus próprios desenhos, era um dos melhores alunos da classe e também um dos meus grandes amigos.
Iago era da sala da garota dos meus sonhos, eu não falava muito com ele, mas era um amigo bem próximo do Victor. Alto, de pele morena e sempre bem humorado com um sorriso estampado no rosto.
João e Acácio eram irmãos. João era um pouco mais alto que o Acácio, ambos eram magros, de um tom de pele mesclado, como a dos índios, os cabelos de João batia em seus ombros e eram encaracolados. Os dois irmãos eram muito divertidos e companheiros, até se davam bem se vissem pelo lado de terem a mesma idade.
Caio era um garoto gordinho, bem alto, cabelos negros e olhos negros, estava do lado de seu irmão Filipe falando sobre a festa que iriam fazer na igreja que eles costumavam freqüentar.
Karina era uma garota baixinha, de cabelos castanhos claros e longos e Liliane era alta, de cabelos castanhos escuros e eram as melhores amigas, quando se olhava para elas viam aquelas duplas inseparáveis do, gordo e o magro, o alto e o baixo. Estavam uma do lado da outra cochichando sobre os garotos das outras salas (elas pensavam que ninguém podia ouvir o que elas estavam falando, mas infelizmente para mim, eu podia).
Quando entramos na escola e resolvi que iria falar com Victor sobre o que tinha acontecido no trem. Bem, depois do Douglas ele era um dos amigos que eu mais confiava.
Quando nós estávamos subindo para sala eu contei a ele com alguns cortes o que aconteceu, cortando por exemplo, a parte que meus olhos trocaram de cor ou no momento em que o mendigo virou um pássaro azul e amarelo e me deixou sozinho esperando por eles.
– Quer dizer que você acertou o nome do pássaro que nunca viu antes na vida em um impulso? Um choque que passou pelo seu corpo? Uau! – ele disse achando tudo engraçado, como se eu tivesse brincando.
– Victor, eu estou falando sério cara, eu não sei o que aconteceu!
– Ta bem, ta bem. Eu vou procurar algo mais tarde algo sobre isso, depois eu falo com você certo? – ele falou parando de rir, percebendo minha seriedade.
– Ok.
Só consegui vê-la na hora do intervalo, ela estava perto de um murinho com algumas amigas.
Eu estava fingindo prestar atenção na discussão dos meus amigos sobre matemática, mas estava na realidade estava me perdendo nos seus olhos.
Ficava imaginando o motivo de ela estar segurando o olhar em mim por tanto tempo, talvez meu olho tenha ficado amarelo de novo ou algum tipo de distúrbio estava acontecendo, ou estava com tanta vontade de falar comigo, quanto eu estava de falar com ela, ou até mesmo com medo daquele garoto estranho e feio não parar de encará-la nem por um segundo.
Quando estava subindo para a sala novamente percebi que um pássaro totalmente azul e com o bico preto estava parado na janela das escadas dos andares. Aproximei-me dele temendo o que aconteceria a seguir, não faltava mais nada me acontecer de anormal mesmo.
Fiquei praticamente cara a cara com eu ouvi o pio que alto e agudo.
Eu não sei como, mas consegui perceber certo tom de alerta naquele pio, parecia que ele queria me avisar algo.
– Como eu entendo você? – eu perguntei rapidamente, me sentindo um completo idiota
Ele piou e saiu voando para o andar de cima, que normalmente ficava vazio durante o intervalo. Com outro flash de cegar os olhos aquele mendigo havia voltado e o pássaro sumido.
– Ah, de novo não! – virei de costas e comecei a descer os degraus.
A primeira impressão pude jurar que o mendigo estava pelado mas de um jeito que eu não sei explicar, ele vestia uma sunga Box que estava intacta mesmo com a sua “transformação”.
– Não temos tempo para conversa, siga a garota, ela corre perigo, vou ter que pedir a você uma coisa que não tem noção que é capaz de fazer, pode sentir-se estranho da primeira vez ou talvez nem consiga – “pelo amor” eu demorei duas semanas pra metamorfar na primeira vez – ele falou consigo mesmo – mas logo explicarei tudo. Se sentir que está correndo perigo deixe acontecer, deixe-o despertar, não tema pelo que acontecerá, explicarei tudo quando puder – me disse com um tom urgente, olhando escada abaixo.
Ouvimos barulho de movimentação, os alunos estavam voltando para as salas e a nossa conversa estava chegando ao fim.
Eu não respondi nada, estava a ponto de chamar alguém para me colocar uma camisa de força, será que eu realmente estava ficando louco ou tudo aquilo era real? Não sabia o que fazer, segui-la e ter a chance dela achar que eu sou um completo louco? Deixá-la em sua sala e ficar na minha, estávamos a uma distancia de dez metros entre uma sala e outra de qualquer forma!
Ficar na minha com certeza, como já havia me acontecido tanta coisa estranha aquele dia, um pouco de paz cairia bem.
Fui para a minha sala depois que outro flash encheu o corredor e o pássaro voltará, piou novamente e saiu da minha vista por uma janela aberta a minhas costas.
Na sala de aula eu normalmente me sentava perto da janela, então tinha uma boa visão da rua a minha esquerda.
Não sairia correndo da minha sala como um louco para proteger a menina que eu mal conhecia, não acho que seria a coisa mais sensata a se fazer mas estava com medo que algo realmente ruim acontecesse, e com esses pensamentos loucos as três ultimas aulas passaram, sem eu mesmo perceber.
Quando o sinal do fim das aulas do dia tocam, é um grande tumulto, gente se empurrando para descer as escadas, gritos e berros, então fiquei para trás para não entrar na aglomeração e também esperar e ver ela passar com suas amigas.
Quando saiu de sua sala nossos olhos se encontraram novamente, e senti minhas pernas tremerem fortemente, ameaçando me derrubar e pagar um grande vexame.
– Err.. Oi – falei totalmente constrangido, quando me aproximei sem motivo.
Suas amigas fizeram uns barulhos estranhos, como se estivessem achando aquilo muito engraçado, me fazendo ficar pior no meio daquela situação, menos uma delas, que sorriu radiante como se esperasse aquela cena a um longo tempo.
– Oi – disse ela tranquilamente, aparentemente não sentindo o mesmo que eu, ou pelo menos, conseguindo esconder muito melhor.
– É... Um amigo meu me falou que você mora no mesmo condomínio dele, e eu precisava ir para ali perto, só que não conheço nada dessa área, ele me disse que não teria problema em falar com você que me ajudaria, tem como? – aquilo com certeza foi a coisa mais idiota que eu falei na minha vida toda para uma garota, eu nem ao menos sabia o nome dela, e estava pedindo para ela me levar ao um lugar que eu conhecia muito bem.
Foi provavelmente o limite para as suas amigas, fazendo uma rir absurdamente e escandalosamente alto, como se esperasse algo do tipo daquela conversa e saiu andando. Ela tentou lançar um olhar de sarcasmo para a amiga, que pareceu não notar e sumiu no corredor com as outras em sua cola.
– É... Lia – ela disse para a unica que havia ficado para ver a cena, e parecia bem feliz com tudo aquilo – pode ir – e ela saiu para as escadas com um sorriso na cara, mas não de ironia e sim de felicidade.
Comecei a me sentir melhor, mais confiante.
– Eu moro aqui perto, mas para que precisa ir até o clube? – ela perguntou, também abrindo um pequeno sorriso pelo canto da boca, deixando a vista seu aparelho com borrachinhas vermelhas.
– É que eu preciso, bem... Encontrar um amigo ali por perto – falei um pouco sem graça com a parte do “amigo”, eu não queria ter muita intimidade com um mendigo.
– Ah, eu moro realmente do lado – disse animada, começando a caminhar pelo corredor, e sem convite eu a acompanhei.
Achei realmente estranho, havia sido mais fácil do que eu pensei, imaginei muitas coisas na primeira vez que falaria com ela, como por exemplo, ser esnobado, ou ela rir de mim como suas amigas, mas foi muito mais fácil, como respirar. E o mais importante ela estar perto de mim, e no momento, isso era a melhor coisa do mundo.
Apressamos o passo até estarmos mais ou menos cinco quarteirões do clube, em alguns momentos jurei ver dois pássaros passando sobre nossas cabeças.
Eu não sabia o que falar depois de alguns minutos falando sobre a matéria e professores, não tinha nada o que dizer, tirando o fato da vergonha estar me fazendo ficar provavelmente roxo com o silêncio.
– Como você chama, não me disse? – ela me perguntou alguns instantes depois do meu pensamento, quando atravessamos o quarto ou quinto quarteirão, ri sozinho por um segundo, tinha esquecido de me apresentar.
– Guilherme, mas a maioria das pessoas me chamam de Freitas, e você?
– Raissa – ela me disse, olhando para o outro lado da rua sem prestar atenção em mim – Minha casa fica ali na próxima rua, o clube fica mais...
Havia parado como uma estatua ao meu lado, sem falar nada e com os olhos arregalados. Eu estava olhando para seu rosto em todo momento que acabei não percebendo o que ela olhava, virei a cabeça na mesma direção que seu olhar.
Um cachorro muito grande, todo preto, do tamanho de uma moto estava parado na frente de uma travessa.
Raissa soltou um pequeno gemido e olhei para ela de novo, estava ficando verde.
– Vamos atravessar a rua, não gosto de cachorros – ela disse, puxando minha mão. Meu corpo todo formigou com o seu toque.
Mas havia alguma coisa estranha com aquele cachorro, olhei melhor para ele vi que seus olhos tinham um leve reflexo avermelhado e me olhava como se esperasse meu próximo movimento para fazer o seu.
Um pássaro passou muito rápido pela minha cabeça e eu percebi que algo de ruim estava para acontecer, puxei Raissa pelo braço para atravessarmos a rua depressa.
Foi tudo tão rápido que não duvido que Raissa sequer tenha visto o que aconteceu.
No momento em que demos o primeiro passo em direção da calçada, o cachorro avançou sobre nós e no mesmo momento um flash clareou tudo ao nosso redor.
Por um mínimo segundo onde eu jurava ter visto um pássaro azul passar veloz, agora se encontrava um enorme gorila de no mínimo dois metros e meio de altura, com uma enorme mancha branca em suas costas, perfeitamente alinhada.
As pessoas que estavam próximas começavam a correr gritando, deixando seus carros parados com alarmes disparando e tentando filmar com seus celulares o que estavam presenciando. Aproveitando a confusão sai disparado com Raissa, para tirá-la dali.
O enorme cachorro-lobo avançou no gorila e levou um soco que o fez choramingar e bater em uma lixeira, que despencou todo seu conteúdo em cima dele.
Olhei para o enorme gorila e o vi fungar e mexer a cabeça como se estivesse me mandando sair dali e não esperei um segundo aviso.
Depois de correr mais dois quarteirões sem pausas, os gritos já haviam parado e ela me avisou que havíamos chego na porta do seu condomínio, mas a puxei quando ela tentou me fazer entrar pelo portão e atravessei a rua com ela novamente, levando-a para o que parecia ser um beco sem saída, e me encostei na parede para recuperar o fôlego.
– O que foi aquilo?! – ela gritava apavorada para mim – Não podemos ficar aqui, aquela coisa olhava para nós como se fossemos... Comida!
– Temos que esperar – avisei a ela, a respiração voltando ao normal.
– Esperar o que? – ela falava furiosa e apavorada ao mesmo tempo – O que era aquilo?
– Eu não sei, eu não sei – falei no mesmo nível, ela não precisava gritar, que culpa eu tinha? – temos que esperar o meu... Amigo.
– Eu não tenho que esperar nada, eu nem conheço você – gritou para mim, cuspindo as palavras, e começou a andar de volta para o outro lado da rua.
Eu puxei seu braço e senti meu corpo todo tremer, quando ela virou, olhou nos meus olhos, não sei o que ela sentiu mais foi alguma coisa maior, pois no segundo seguinte parou de debater.
– Quem é o seu amigo? O que você quer comigo? – perguntou se sentando no chão, e me sentei ao seu lado.
– Eu não... – comecei a falar para, mas algo me interrompeu.
Um pássaro azul berrante curvou as asas e entrou no beco, me levantei no mesmo instante, sentindo minha cabeça latejar e sem querer enverguei os ombros.
Um forte flash e o que era um pássaro agora era o famoso mendigo, que me causou tanta confusão. Ele parou a minha frente e olhou para Raissa como se ela fosse culpada dele estar naquele estado, sujo e fedendo.
– Cachorro maldito, rasgou minha roupa – disse mais para ele mesmo do que para nós, estava totalmente nú – Ah, me desculpe mocinha – disse para Raissa, parecendo não sentir culpa nenhuma.
Olhei para ela como se pedisse desculpas, mas foi mais rápida do que eu, puxou minha blusa e eu entendi o que ela queria fazer. Tirei-a e joguei para o meu “amigo”, que enrolou em torno da cintura.
– O que está acontecendo aqui? - perguntei a ele, um pouco mais calmo mais ainda com a cabeça latejando – E o que era aquela coisa?
– Eles estavam atrás de você – ele me respondeu com certa frieza na voz.
– Eles? Mas só tinha um cachorro enorme lá, antes de você aparecer – falei horrorizado, agora realmente não entendia mais nada.
– Estavam espiando, o cachorro era uma cobaia, vamos logo ela tem que ir para casa.
– Tudo bem, mas depois você vai me contar tudo o que está acontecendo – resmunguei rabugento, pegando a mão da Raissa (meu corpo todo estremeceu por um segundo) e levando-a para o portão do condomínio.
– Vou esperar aqui e... Obrigado pela roupa criança – ele gritou, soltando uma gargalhada um pouco rouca, como um balbuciar de gorila.
Ela não falou nada até chegarmos a porta do apartamento, estava pensando o que se passava na mente dela, talvez...
“Esse menino é louco, tomara que ele vá embora e eu nunca mais tenha que falar com ele” ou “Que demais, cheguei em casa viva!“. Só sei que qualquer um desses pensamentos me apavorava por inteiro, mas quando ela abriu a porta ouvi uma coisa inesperada:
– Vou ver você amanha? – disse com a voz baixa, quase inaudível.
Eu olhei nos olhos dela, e senti certo medo daquilo:
– Você ainda quer me ver depois de tudo o que aconteceu, esse cara que vira... – eu não consegui terminar a frase – bom... Eu espero que sim, mas quero que me prometa uma coisa.
– O que? – ela perguntou um pouco mais animada.
– Você não vai sair de casa, de jeito nenhum, depois do que aconteceu nesse meio tempo em que andei com você, acho melhor não arriscar sair sozinha.
– Tudo bem – ela respondeu um pouco aborrecida, e eu vi desapontamento em seu olhar.
– O que foi?
– Eu tinha combinado de sair com o meu namorado mais tarde – respondeu mais desapontada ainda.
O que?! NAMORADO? Eu não sabia que ela tinha um namorado!
– Hã... Certo... Faça o que eu peço amanhã você pode se encontrar com seu... Namo... rado – gaguejei a ultima palavra.
– Ok – ela disse abrindo a porta e entrando na casa.
– Então, até a manha – me despedi totalmente deprimido.
– Até – soltando a bolsa no chão, ela beijou minha bochecha.
Senti algo queimar dentro de mim, diferente de todas as sensações que eu havia sentido em toda minha vida.
Sai para o corredor em que dava o elevador sem falar nada. Ela ficou esperando na porta até ele chegar, quando entrei no elevador, ouvi a porta bater e trancar alguns andares acima.
Passei pela portaria fazendo um aceno de cabeça para o porteiro, ele correspondeu e abriu o portão automático do prédio.
Corri para o outro lado da calçada e entrei no beco, aonde o mendigo me esperava sorrindo.
– Que demora em guri, o que estavam fazendo o que lá em cima? – perguntou ironicamente.
– Nada – respondi mal humorado.
A descoberta de um namorado mexeu com os meus neurônios do mesmo jeito que o beijo mecheu com o meu corpo.
– Quero te fazer duas perguntas antes de qualquer coisa, e quero as respostas verdadeiras e completas.
Ele não respondeu, apenas continuou sorrindo.
– Certo, primeiro, quem é você? – pergunte mais agressivamente do que queria, e senti meus olhos arderem novamente, agora que teria respostas, extravasaria minha raiva com quem merecia – e o que você é?
- Bem, acho que poderei te responder as duas perguntas – ele me disse mais negativamente agora, de má vontade – Meu nome é Jason White, sou um Morfo.
– Um o que? – perguntei, soltando uma gargalhada ao ouvir a segunda resposta.
– Morfo, é o que você é, o que eu sou – ele me respondeu sem ligar para minha risada.
– Eu não sou igual a você, ainda que não tenha me explicado o que é isso – gritei enfurecido, sentindo meus olhos arderem mais fortes ainda – você se transforma em animais com um flash que eu nem imagino da onde vem, eu não sou nada parecido com você!
– Se acalme garoto – ele me alertou, sem se exaltar.
Como poderia ficar calmo com tudo isso?! Eu estava enfurecido, tanta coisa acontecendo em uma manhã só, era tudo muito estranho.
– Quero saber tudo e se eu sou assim quero que me prove! – gritei novamente sentindo meu coração bater dez vezes mais fortes sobre o meu peito, ameaçando explodir.
– Para isso vai ter que me acompanhar – jogou a blusa para mim e com outro flash ao qual eu já havia me acostumado, o pássaro azul berrante já havia voltado a minha frente e começado a bater as asas, esperando que o seguisse.
Se não teria escolhas, segui caminho com o meu amigo diferente, deixando para trás (pelo menos naquele momento) uma coisa que me fazia bem.

Essa história pertence a
Guilherme Freitas de Aguiar

sábado, 19 de setembro de 2009

Capitulo 1 - O que está acontecendo comigo? E o mais importante, por que comigo? ( REFORMADA )

Prefacio.

A minha história seria normal como de qualquer outro garoto, a não ser pelo fato de eu nascer com uma pequena diferença genética, não só diferente de minha família, mas provavelmente diferente de todo o planeta.

Capítulo 1 – O que está acontecendo comigo? E o mais importante, por que comigo?

Acordei em uma floresta, estava muito escuro, mas eu conseguia ver pequenos riscos de luz solar entre o espaço das arvores que não estavam cobertos pelas enormes folhas em seus galhos. Um zumbido forte ecoava em meus ouvidos e eu estava com muita fome, era intensa e mexia com meu estomago tão fortemente que eu poderia acabar com uma vida para saciá-la.
Senti um cheiro vindo do norte, muito diferente e atrativo, algo delicioso, e sem perceber, no segundo seguinte eu já estava correndo, muito mais rápido do que já havia corrido em toda minha vida, mas não me importei, eu precisava descobrir que cheiro era aquele e a quem pertencia.
A cada passada que eu dava ia ficando mais forte e tentador, e a luz do solar ia se aproximando cada vez mais dos meus olhos conforme subia a parte mais inclinada de um pequeno morro que já deixava para trás, e havia se transformado em uma colina.
As árvores que me rodeavam começaram a ficar menos agrupadas e eu conseguia me locomover com mais facilidade.
Meu nariz estava queimando com aquele cheiro, eu não aguentava mais, sabia que estava próximo do meu destino saboroso.
Finalmente cheguei, no que parecia ser o pico de uma colina.
O sol me cegou por um segundo, antes que eu conseguisse absorver tudo que havia aparecido a minha frente.
A minha direta havia uma pequena cabana, feita de madeira e bem antiga, mal cuidada e com alguns aparelhos fazendo sons, chiados e barulhos que não pude distinguir, aparentemente abandonada. A minha esquerda havia mais arvores agrupadas que achei muito difícil de alguém conseguir se locomover por ali, mas o que realmente me impressionou foi o que esperava a minha frente, meu coração bateu de um jeito que nunca pude sentir antes, algo que me fez tremer por inteiro.
Estava parada olhando para o sol, uma garota muito linda, de cabelos negros que esvoaçavam com o vento que zumbia fortemente no alto da colina, suas mãos brancas tremiam fortemente, e suas roupas estavam sujas e rasgadas no jeans da calça e uma parte do capuz de sua blusa branca. Quando o transe momentâneo com a aparição dela passou, estremeci novamente, o cheiro que estava procurando era o dela, a força que me atraia tão vorazmente ao alto daquela colina vinha daquela frágil garota. Eu tinha a maior consciência que qualquer toque poderia machucá-la, mas eu não conseguia entender o porquê. Eu estava ficando louco, tudo nela me deixava alucinado e eu queria arrancar cada pedaço de carne em seu corpo, eu queria machucá-la.
Ela não percebeu minha chegada, havia sido muito cauteloso.
Mas eu não podia, ela era tão linda, inocente, e percebi que eu realmente não queria e nem poderia machucá-la.
Eu tentei avisar para fugir, que não era seguro ficar perto, uma pessoa tão horrenda e sem consciência que queria matá-la, mas quando fiz isso, não foi como esperado.
Minha voz de adolescente de quinze anos de idade havia sido trocada por um rosnado forte e rouco, como o de um urso!
Ela virou-se, olhou para mim sem medo, sem reação nenhuma, simplesmente olhou, e eu me perdi em seus olhos.
Era cor de mel, me fizeram sentir diferente, como se estivessem me esperando. Sua pele era clara, muito clara, estava um pouco suja, mas não mudava o fato de me fazer sentir como se ela fosse o motivo real para estar ali, não pela vontade de saciar a fome, mas sim para poder ficar perto dela para todo o sempre, e então sorriu para mim e avisou
– Agora está próximo de começar, meu corajoso.
O zumbido que eu escutava desde o começo de minha caçada estava ficando mais forte e mais alto, fracas vozes começaram a soar sobre meu crânio.
De repente eu senti meu coração bombear mais sangue do que o normal, tudo ficar quente. Comecei a me contorcer, sentir dor, meu corpo ardia e meu coração batia acelerado, perdendo todo o horizonte a minha frente, entrei em um buraco profundo.
Tudo queimava dentro de mim, parecia que eu havia sido mergulhado em um acido que estava me corroendo por inteiro, não havia nada que eu pudesse fazer para parar, então esperei.
Quando abri os olhos de novo ela estava na minha frente, olhando para mim, calmamente.
Me sentia normal novamente, mais muito fraco, dolorido, machucado. Tentei levantar para gritar para que ela fugisse, mas naquele exato momento mas senti um forte puxão no umbigo.
Abri os olhos e vi a sombra de minha mãe no escuro do meu quarto me puxando:
– Filho, acorda, está na hora de ir para o colégio – disse ela, me fazendo levantar da cama com fortes puxões no braço.
– Tá bom, tá bom! – resmunguei sonolento.
Já era a quarta vez seguida em que aquele sonho aparecia em minhas noites, a mesma garota, o mesmo lugar, somente mudando uma única coisa, o animal em que eu me transformava.
Bem, com todo esse drama, esqueci de me apresentar.
Sou Guilherme Freitas, tenho quatorze anos e moro com minha mãe, e minha irmã. Nunca tive a chance de conhecer meu pai, pois ele faleceu antes de eu nascer, mas minha mãe sempre disse que eu era exatamente igual a ele, pele morena como de um homem que sempre está bronzeado, cabelos e olhos negros, mas ao contrario dele sou pouco grande para a minha idade. Quando o assunto é a semelhança familiar a única coisa que não me é associado ao meu pai é o nariz e a necessidade de usar óculos, que minha mãe jura ambas serem dela, como uma honra.
Minha vida era real e inteiramente normal, morava em um condomínio na capital de São Paulo, nada muito luxuoso mas vivíamos bem a vida.
Havia perdido meu segundo pai a um tempo atrás, por causa de uma doença lhe custou anos de tratamento e luta, mas depois de um tempo, ele partiu, fazendo de nós quatro, apenas três, mas como me haviam dito quando era menor, “ tudo na vida tem que acabar, sendo a alegria ou a dor “ superamos a perda.
O meu dia-a-dia era como o de qualquer paulistano, sempre fazendo as mesmas coisas todos os dias da semana, então estava me arrumando para ir ao colégio.
Quando terminei de me arrumar, me despedi da minha mãe e fui pegar o elevador.
Abri a porta encontrei com um dos meus melhores amigos, Douglas, que também estava indo para o colégio.
Douglas morava no mesmo prédio que eu, era um pouco menor se comparando a mim, cabelos negros jogados de lado fazendo ter aquele cabelo da moda estilo “Justin Bieber”, e apesar de parecer ser um cara mal humorado, era um amigo com o qual eu sempre poderia contar.
– Dia – falou ele sonolento, a voz saindo rouca
– Dia, cara sonhei com ela de novo – retribui no mesmo tom, coçando os olhos fazendo meus óculos subirem um pouco para minha testa
– E hoje você era o que? Um chiuaua? – ele disse com um certo sarcasmo na voz
– Urso – respondi olhando para o teto
– Cara, acho que você deveria falar com sua mãe sobre isso, esse seu sonho já está muito repetitivo, leão, gorila, lobo e agora urso, isso não é normal, tirando o fato de ser muito engraçado – ele me alertou em tom sério, mas ainda sim debochando de mim
– Mas são só sonhos não são? Então para que se preocupar? – olhei um pouco confuso para ele, para que se preocupar com isso?
– É você quem sabe – disse ele, terminando o assunto.
A porta do elevador abriu no térreo e nós dois saímos.
Na porta do prédio fomos um para cada lado. Eu fui em direção a estação de trem, que fica ao lado do condomínio e ele para o ponto escolar esperar sua carona.
Eu havia contado para ele sobre esses sonhos estranhos onde eu sou um animal diferente a cada noite e sinto o cheiro dessa garota, a qual eu realmente conhecia, tudo bem, mais ou menos.
Ela estudava no meu colégio e eu tinha uma atração inexplicável por ela. Eu sempre tentava vê-la quando podia. No tempo da troca dos professores das aulas, nos intervalos, na saída, na entrada, sempre que eu tinha chance eu a procurava, me fazia sentir em partes, melhor.
Mas eu não contei para ele que além de sonhos estranhos, coisas estranhas estavam acontecendo comigo ultimamente, não achei necessário, seria só mais motivo para tirar sarro de mim.
A musculatura do meu corpo havia começado a mudar de menino “fofinho” para um menino mais forte e com o corpo mais definido, não que isso seja uma preocupação, mas aconteceu em um mês o que aconteceria em dois anos com um garoto que se exercita normalmente todos os dias.
Eu também estava sentindo, enxergando (mas mesmo assim necessitando de óculos) e ouvindo muito melhor do que antes, e me sinto mais ágil e rápido a cada dia que passa.
Bom, mas isso é normal eu estou crescendo não estou?
Quando eu realmente me dei conta de onde estava, percebi que já havia chegado na catraca da estação, meus pés me guiaram sozinhos até lá, com tantos pensamentos me rondando não prestei atenção por onde ia.
A estação ficava ao lado do condomínio onde morava, facilitando minha ida para o colégio, era um lugar frio e normalmente vazio, mas muito bom para se pensar.
Enquanto esperava o trem, os pensamentos do sonho voltaram a tona novamente.
“Por que eu era um animal? Por que eu queria atacá-la? Por que eu desistia disso? E o mais importante, por que esse sonho era tão repetitivo e insanamente igual todas as noites”.
Tantas perguntas rondavam minha cabeça mais nenhuma resposta vinha para responde-las, com essa triste resposta, o trem chegou.
Estava vazio como sempre, essa sempre foi a vantagem de sair mais cedo de casa.
Me sentei em um banco do primeiro vagão ao lado de duas pessoas que me fizeram sentir a vontade de sentar em outro lugar no mesmo instante.
Na minha direita, havia uma mulher usando um terninho e uma saia que chegava um pouco além da metade de sua coxa, seus cabelos estavam presos em um coque e ela segurava uma pasta em suas mãos firmemente, como se estivesse temendo ser roubada. Ela olhava séria para todos, com certa frieza e superioridade, e quando me esbarrei nela, senti seu corpo tremer.
Do meu lado esquerdo, estava um homem que usava uma jaqueta velha e suja com uma grande letra W de cor amarela, um gorro azul rasgado, tinha olhos pequenos e brilhantes que não eram muitos visíveis em baixo de todo seu cabelo enorme e mal cuidado junto de, uma barba preta e grisalha. Ele tinha um aspecto sujo e maltratado, e seu odor parecia ser de alguém que não passava perto de um chuveiro a meses, certamente um mendigo.
Eu não tinha percebido até aquele momento que ele estava com um pássaro no ombro esquerdo que eu não podia ver até o momento em que ele virou para olhar para mim.
O pássaro era muito bonito, tinha todo o corpo coberto por penas azuis celeste, com um bico bem escuro, era pequeno e olhava para todos como se calculasse cada pessoa dentro daquele vagão.
De repente senti um tipo de choque que partiu do meu cérebro e passou por todo o corpo. Sem saber como ou porque eu falei:
– Lindo “Mountain BlueBird”.
– Ah, você conhece essa espécie, guri? – o mendigo me perguntou olhando feliz entre sua barba enorme e seu cabelo sujo, tinha um sotaque diferente, parecia não ser brasileiro.
– Bem, não. Acho que foi um palpite de sorte – eu olhei abismado para ele, como é que eu sabia sobre aquele pássaro? Eu nem sabia muito sobre aves.
– Sorte? Sei, sorte... – ele falou mais para si mesmo do que para mim, me olhou como se me avaliasse, depois bufou e voltou a olhar para frente, por mais estranho que pode parecer, exatamente como o pássaro.
– Me dê licença, agora tenho que descer – eu disse a ele, ouvindo a voz do maquinista anunciando a estação da em que deveria sair.
Ainda estava achando muito estranho saber o nome do pássaro que eu nunca havia visto na minha vida, talvez tivesse visto na internet ou algo assim. Olhando para o mendigo vi que ele agora parecia cochichar com o pássaro.
– Não se preocupe em interromper a nossa conversa, vou descer aqui também – ele me avisou olhando radiante para a janela.
– Eu não estou conversando com o senhor – eu disse meio sem jeito.
Ele não respondeu a minha estupidez, apenas sorriu.
Caminhei meu trajeto para o colégio sem falar nada, com o mendigo ao meu lado só parando de falar para encher os pulmões de ar.
Eu fiquei um pouco sem jeito em estar andando em uma rua movimentada conversando com um mendigo que além de sujo e maltratado, estava com um pássaro no ombro que fazia dele um ninho.
– Posso te fazer uma pergunta, guri? – ele falou e finalmente percebi que já estava na frente do colégio, parado ao lado do portão fechado, com o mendigo ainda ao meu lado.
– Claro, mas por favor, pare de me chamar de guri – eu pedi a ele sem medo da resposta.
– Se você tivesse falado seu nome desse tempo que andamos, teria ficado mais fácil – ele disse com um sorriso irônico no rosto.
– Guilherme, mas meus amigos costumam me chamar de Freitas – respondi com o tédio nas alturas, desejando que o portão abrisse ou que o meu amigo saísse voando.
– Tudo bem, Freitas. Você poderia me dizer como sabia o nome do meu amiguinho aqui? – perguntou ele, passando o dedo indicador sobre a cabeça do pássaro.
– Eu já falei para o senhor, foi sorte, eu senti um impulso de falar o nome dele e saiu – respondi com sinceridade, realmente não sabia o que tinha acontecido.
– Sei, outra pergunta? Você tem tido sonhos estranhos ultimamente? – ele perguntou sério dessa vez, parando de rir e olhando nos meus olhos profundamente como se tivesse fazendo um scaner dos meus pensamentos.
Como ele sabia? A única pessoa que sabia desses sonhos era o Douglas, e eu duvido muito que ele contaria esses sonhos loucos para um mendigo.
– Como você sabe que tenho tido sonhos estranhos? – perguntei agressivamente para ele, indo para traz para, tomando distancia entre nós.
– Ah, sim, acho que foi sorte – ele respondeu rindo novamente, sua risada parecia com um balbuciar de um animal, um gorila.
– Hã, eu realmente tenho sonhado com algumas coisas estranhas, faz algum tempo – disse para ele, sem saber o por que, eu nem o conhecia – desculpe, como você se chama mesmo?
– Hum – ele refletiu por um momento – acho que esse não é o momento certo para te responder está pergunta.
Eu ouvi meus amigos de longe chegando, sabia que eram eles, já me acostumará com suas vozes. Olhei para o mendigo, e já estava pronto para pedir para que ele fosse embora.
– Acho que seus amigos estão chegando não? – ele disse de repente.
– Voc...você também consegue ouvi..vir eles desta distancia? – perguntei gaguejando, eles ainda estavam muito longe da gente, não seria possível ele conseguir ouvi-los, nem mesmo seria possível eu ter conseguido
– Claro guri, também sou diferente, como você, e até um pouco mais experiente. Se quiser posso te mostrar o que somos – ele falou sorrindo para mim.
– Como assim? O que SOMOS? – olhei para ele com raiva, senti meus olhos arderem.
Ele não falou nada, tirou um caco de espelho do bolso e apontou para meu rosto.
Quando mirei no espelho, me surpreendi em ver que minha íris, que sempre fora negra como a noite mais densa (palavras da mamãe) estavam amarelo, fortes e vivos.
– Me desculpe, ainda não chegou o momento, mas logo saberá o que estou falando, e me faça um favor, se acalme rapaz, vai acabar chamando a atenção – ele avisou sério, deixando seu sarcasmo de lado – eu vou encontrar você depois da aula, e por favor, não se meta em confusão, você pode acabar machucando alguém.
Eu não respondi, tudo estava tão confuso e estranho que não consegui entender absolutamente nada.
Com um “flash” parecido com o de uma câmera fotográfica o mendigo parado a minha frente sumiu e rapidamente dois pássaros totalmente azuis, um sendo um pouco maior do que o outro saíram voando, contornando a escola até eu não conseguir mais enxergá-los
Eu não queria acreditar no que tinha acabado de presenciar mas o mendigo que estava falando comigo a poucos segundos, havia se transformado no maior dos dois pássaros.